~~**Saudades.

Acordei em uma manhã comum de domingo, em que as nuvens cinzentas cobriam o pouco do mínimo feixe de luz do sol que se estendia no céu.

Abri a janela com alguma expectativa. Alguma expectativa de enxergar uma companhia, diferente dos porta-retratos e das cartas com letras traçadas em circunferência desalinhada.

Minha mente rejeitava a idéia de pensar no quanto eu estava afetada.

No quanto, aquelas simples folhas de papel representavam.

Uma lembrança vale mais do que uma experiência. Fato.

Da minha janela conseguia fitar o mar, até que ele sumisse na neblina, até o traço do horizonte. Desisti de tentar evitar que os pensamentos me atordoassem.

De ver aquelas águas se movendo lentamente... Lembrava que você estava navegando por lá, no último dia em que seus lábios frios tocaram minha testa,... o quanto era bom ouvir sua voz, mesmo no tom de despedida.

O cheiro da madeira da janela me lembrava em como foi maravilhoso, passear naquela floresta campestre, no último dia em que você deixou suas mãos atadas com as minhas.

Fitar as nuvens me lembrava de todas as inúmeras vezes em que você me ofereceu seu casaco com seu cheiro extasiante, para me proteger das pequenas gotas que brotavam das nuvens gélidas, que poderiam afetar o humor de qualquer mortal...

...O tique taque do relógio me fazia lembrar... Dos minutos incontáveis que passávamos presos entre o triunfo de um beijo quente, assim como nos últimos minutos que pudemos trocar um selar de lábios.

O cheiro de hortelã da pequena horta debaixo... Fazia-me lembrar de como seu hálito alcançava a minha face, em uma combinação perfeita de refrescante. E como ele evaporou no último dia que o senti.

As quatro paredes do cômodo em que estava... Faziam-me lembrar de todo e qualquer momento, em que estávamos reconfortados, um nos braços do outro, num abraço meigo e afetuoso... Assim como no mais delicioso abraço que lhe dei, no último dia em que nos vimos...

E quando eu fitava as coisas, cada vez eu devaneava em uma emoção diferente, que pude sentir um vazio imenso se apoderando do meu peito, e fazendo que dentro dos meus olhos brotassem as lágrimas salgadas que só você conseguia enxugar.

O sentimento era tão forte, porque era como se me triturasse em milhões de pedacinhos.

A SAUDADES.

Sentir falta de tudo que era bom...De tudo que me deixava em perfeita alegria...E ao mesmo tempo que ia me recordando, ia chorando, e chorando...E ia secando minhas lágrimas devagarzinho...

Eu queria só poder não sofrer mais por amor. Saudades daquele amor.

Tentava destruir aquele vazio, com o pouquinho de esperança me restava.

Esperança de cuidar das feridas das saudades com o tempo.

Esperança impossível de poder esquecer todas as lembranças.

Esperança de que a fé em que novas sensações surgissem tomasse

conta de mim.

Mas nenhuma esperança, calava-me mais fundo do que a esperança, de poder de ter, mais uma única vez para o buraco vazio de saudades, que se aprofundava no meu peito, sumisse e não voltasse nunca mais.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 19/05/2010
Código do texto: T2266485
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