Voluntária de um programa de assistência às crianças portadoras do vírus HIV era a 2ª vez que me encontrava com eles. Estávamos começando a planejar a festa de Natal. Encontrei Dante, um menino de 8 anos, no corredor do hospital já em cadeira de rodas, seu corpinho frágil e quase esquelético, seu semblante triste e eu ainda novata quis animá-lo, e então lhe perguntei: "E aí Dante, já escolheu o que vai pedir a Papai Noel?"
Ele muito inteligente, tinha consciência de sua doença, (nesta época ainda não havia os famosos "coquetéis") prontamente respondeu-me: "Eu não sei se duro até lá".
Num primeiro momento senti-me muito triste, com sentimento de culpa por ter feito aquela pergunta.
Porém este episódio foi, sem dúvida, uma lição que aprendi para toda vida, e concientizei-me que não temos o direito de reclamar de nada  e diariamente agradeço a Deus por tudo que vivencio, sejam emoções agradáveis ou sejam dores, pois as dores também vêem nos ensinar algo. O terrível de uma dor é quando ela foi vivida em vã.
Março/1998