Amor e paixão

Sempre ouço as pessoas falarem de amor quando na verdade falam de paixão e vice-versa. Essas duas palavras são empregadas livremente como se os seus significados fossem irmãos - na verdade são primos bem distantes.

Amar é querer bem, é aquele sentimento sereno e gentil que compreende e tolera. Amor nada tem a ver com aparências, status ou tesão. Amar é querer a felicidade do outro como a sua própria felicidade. Amor verdadeiro fortalece e liberta. Quando amamos os nossos pais, filhos, irmãos, cônjuges ou amigos, somos como guardiões de uma fortaleza conjunta: a felicidade. A felicidade de quem você ama é a sua felicidade, a dor de quem você ama é a sua dor. O amor pode ser construído, é algo que vem da alma e é vizinha da sabedoria. É difícil amar alguém quando não somos pessoas que buscam a sabedoria. O amor verdadeiro é perene, permanece inabalável às intempéries e nunca morre.

Já a paixão é algo carnal, impulso provocado pela libido. É o desejo que sentimos por algo ou alguém que foge a nossa racionalidade e faz ferver o sangue. A paixão aparece e ponto final, não exige maiores explicações. A paixão incontida debilita e aprisiona, se não é freada pela razão, pode assumir uma forma selvagem e animalesca. Ela é egoísta pois quer apenas saciar-se usando o outro como canal para dar vazão a sua corrente. A paixão mora ao lado do tesão e só deseja o outro na medida em que este serve aos seus caprichos. O fogo da paixão é efêmero e consome tão rapidamente quanto se extingue.

Mas o amor e a paixão podem conversar. É como se o amor fosse um velho mestre e a paixão um discípulo jovem e rebelde. O amor quer segurar a mão da paixão e mostrar o caminho mas, a paixão, imatura, quer se desgarrar e trilhar seu próprio caminho - um caminho de prazer e dor, gozo e sofrimento. Mas o amor tolera, compreende e espera. Com sabedoria e o passar dos anos o amor envolve e apazigua a paixão e esta, enfim, aprende a caminhar lado a lado com o amor.

Quando este equilíbrio é alcançado descobrimos que a vida transcende tudo o que é material - o que realmente importa nós não podemos tocar, ver ou ouvir. O véu imaculado que cobre a vida se desfaz e, em júbilo, declaramos de corpo e alma:

Ó vida, amo-te e por ti tenho tesão!

Julho de 2010