Penso, logo existo! Será isso mesmo?

Penso, logo existo! Será isso mesmo?      
 
         Alguns bons humanos repetem, sem muita análise, que “Penso, logo existo”.
 
        É uma frase de efeito, bonita, mas povoada com certa vaidade e envolta de certo ar pedante contra a imanente existência. É mais ou menos óbvio que se eu penso, eu existo. Mas esta frase traz junto a si uma possível falácia que permeia nossa vaidosa idéia de que porque eu penso, eu existo.
 
        Eu não existo porque eu penso. Eu existo, simplesmente porque sou imanente. Eu existo, e graças a evolução que me municiou, sem nenhum plano especial, e totalmente ao acaso, com um complexo sistema neuronal que me permite pensar, eu penso. Meu complexo cérebro me permite mais, me permite possuir uma autoconsciência de que existo. Porém eu existiria mesmo que desprovido desta autoconsciência. Irmão com sérios problemas mentais, sem capacidade de serem autoconsciente, ou mesmo irmãos em coma, sem nenhuma capacidade de pensamento autoconsciente, continuam existindo.
 
        Mesmo que estejamos filosofando, e falando que existo enquanto pessoa mental, enquanto um ser único que reflete nosso eu pessoal, eu existo independentemente de pensar, posto que sou o que está registrado em minha rede neural, plástica o suficiente pois permite que a reconstruamos continuamente, mas sou o que nesta rede está registrado neste momento.
 
        A existência é totalmente independente do pensar. A existência é imanente. O hidrogênio, o mais simples dos elementos naturais existe, e é evidente que não pensa. O mesmo ocorre do macrocosmo ao microcosmo. O próton existe, uma estrela existe, o quark e o gluon (componentes formadores dos prótons e dos neutros) existem, galáxias inteiras existem, o espaço, este objeto complexo existe, e nenhum deles pensa.
 
        Assim, podemos continuar repetindo que “Penso, logo existo”, porem tenhamos em mente que não reflete a pura verdade.
 
        Aos amigos que crêem no transcendente, poderiam talvez incluir mais uma multidão de objetos que, segundo a crença individual de cada um deles, existem, mas não pensam, pelo menos como o pensar significa. Estes seres, conforme crenças individuais que respeito apesar de não compactuar, poderiam inclusive ser o meio que nos leva a pensar, mas eles existiriam, mesmo que todos os homens desaparecessem de nosso universo, o que acontecerá mais cedo ou mais tarde. A história nos mostra que não houve nenhum ser com existência garantida sobre a terra.
 
        Existimos, isso é maravilhoso, isto é fenomenal. Aproveitemos assim, o melhor possível nossa existência, buscando a nossa felicidade sem abrir mão de encontrar junto a felicidade de nossos irmãos.
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 13/07/2010
Código do texto: T2374982
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