A Aurora que me Adivinha

Nesse teu olhar de peregrino,

Que te dá um jeito tão divino,

Escondes o azul que me enleia,

És meu oceano e eu, tua sereia.

Amo-te assim e tanto e tudo

Meu insaciável furacão,

Com o mesmo amor mudo

Que um poeta ama a paixão.

Mar revolto ou férreo deserto,

Salva-me teu corpo em alívio,

Me perfuma teu odor aberto,

Ora de enigma, ora de fascínio.

Assim como queima o incenso,

Tal é o desejo que me arde,

És o deus do meu anseio intenso,

Que me toma e doma sem alarde.

Ah! Essa tortura... minha delícia...

Que tão suave mas tão forte,

Fazes renascer na tua carícia,

Minh'alma tantas vezes à morte.

Teus meandros amorosos...

Tua pele, tuas mãos nervosas...

Com movimentos langorosos,

Compõem-me em notas maviosas.

Muitas vezes me tens perdida,

Na tua sanha misteriosa,

São teus beijos... ou mordidas,

Que me colhem tensa rosa.

Adivinhas-me tua amante...

Com risos, desse meu sem jeito,

Mas pousas, logo, num instante,

Lábios e mãos sobre meu peito.

Serena, tal lua em céu bordado,

Sob teus suspiros e gemidos,

Meu grito em lume arrebatado,

Ecoa em silêncios consumidos.

Minha sede em ti se sacia,

Minha alma em ti se revigora,

Das minhas noites de agonia,

Tu és a luz da minha aurora.

EVERTON LUIS De Bairro
Enviado por EVERTON LUIS De Bairro em 11/08/2010
Reeditado em 15/02/2020
Código do texto: T2431075
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