Latrocínio

Hoje a noite é fria. Fria e solitária. Da tinta da caneta não saem versos bonitos, frases de impacto ou belos poemas. Essa noite essas mãos só escrevem a verdade. Triste, mas verdade.

Escrevo deitado em minha cama; em nossa cama, no seu lado favorito, bem perto da parede. Enquanto cuspo palavras frenéticamente escorrego meu corpo por cada pedaço desse colchão. Encaro a parede. A mesma que já te viu sorrir, que já teviu chorar, que já te viu gozar. Nós; eu, o colchão, as paredes, o teto, todos nós sentimos sua falta, e olhamos um para o outro, sem saber o que dizer, só aquela cara de 'o que diabos aconteceu?'. E quando a luz se apaga não existe silêncio, não existe vazio. O que existe é um quarto cheio; lotado de solidão. - É claro que o seu perfume ainda está aqui, nada foi lavado: nenhuma alma, nenhuma memória. Eu chupo a minha língua em recordação a você. Sinto o gosto meio doce meio azedo da saudade. Meu teto chora.

Mas o que houve com a esperança?

Latrocínio! - você rouba todos os meus desejos, eu tento reagir, e você dispara bem na cabeça; mata a esperança. O sangue escorre da parede para o chão, pintando de vermelho os meus olhos no reflexo. Não tem cheiro de sangue. Tem cheiro de lágrima.

Não é vazio, não é cocaína, não é medo. Não é você.

Essa noite quem me acaricia é a solidão.

William Telles
Enviado por William Telles em 08/10/2010
Reeditado em 18/10/2010
Código do texto: T2545658