Sobre homens e espelhos

“Deixa que tua alma seja semelhante a um espelho, refletindo todos os objetos, todos os movimentos, todas as cores, permanecendo imóvel e límpido”. (Leonardo da Vinci)

Todas as imagens passam a ser subjetivas se você tem certeza que o quê você vê são reflexos dos vários espelhos que precisamos, nos diversos momentos da nossa existência, estar perante. Tudo é uma questão de ângulo, curvatura, e estado de espírito que guia teus olhos! O que te é belo hoje, amanhã já não te servirá. O que te é correto assim estará do avesso logo. E o próprio, é propício a virar o feio e deformado em um piscar de olhos. Se teus olhos não te enganam, passe a desconfiar de todo seu aparelho visual.

Em um espelho plano trivial, bem comum, veremos nossa figura com o mesmo desenho e estatura. A imagem encontrar-se-á atrás desse espelho – uma imagem simétrica de dois objetos que não podem se juntar – se localizará à mesma distância de ti ao espelho. E você, ainda que seja a ti quem vê, não tocas: tua imagem e a imagem que você tem ali, diante de ti, não se sobrepõem, não se aliam, não são as mesmas que você de fato possui, e a qual você permite que teu mundo e os demais espelhos vejam.

São apenas os muitos raios que partem de ti, diante de um espelho plano! Refletindo um outro você nos espelhos das almas e atingindo muitos olhos. De tal modo, o quê recebe teus olhos serão sempre os mesmos raios luminosos, até capazes de descrever o curso angular que causa a maravilha da existência de um alguém atrás dos espelhos, em linha reta! Como nossas mentes trabalham para delongar os raios refletidos, em sentido oposto, você sempre pára para trás dos seus espelhos. Uma ilusão autêntica capaz de produzir a realidade do que você vê afetuosamente diante dos teus olhos.

Só os espelhos são capazes de somar ou diminuir a importância do que vemos, e às vezes até anulam quaisquer valores. Para cada fisionomia ou sinal, há uma expressão ou aceno em retribuição, invertidos ponto por ponto no espelho. O que se é e o que demonstra ser, vivem um para o outro, encarando-se consecutivamente, mas sem se namorar, sem apegos, sem lógica, sem guerras, sem lucidez. Por fim descobre-se que só existem duas maneiras de espalhar a perseguida verdade: ser a você mesmo sem medo de teu mais real foco e formato, ou ser parte que compõe o espelho que te reflete. E qualquer posição que assumas, ainda estará antagônica a outra que diante estarás.

Se por um momento te for por bem quebrar todos esses espelhos, quebre-os sem dó! Muitos são espelhos vulgares, formados por uma camada pobre de prata, alumínio ou amálgama de estanho – depositada quimicamente sobre a face posterior de uma lâmina de vidro, e por trás coberta com uma substância protetora. Busque os espelhos de precisão – os alcançados por evaporação sob vácuo, depositando a camada metálica sobre a face anterior dos vidros. Mas saiba que todos os espelhos não podem ser protegidos, o que requer metalizações habituais.

Todo juízo passa a ser individual e intransferível quando você sabe que o quê você sempre verá são como os espelhos das várias emendas que nos compõe, frutos das muitas estações da nossa vida. Tudo é uma questão de flexão, inflexão, inversão e versão do que guia teus olhos! O que te é admirável agora, no futuro já não te agradará. O que te é adequado deste modo não permanecerá. E o cômodo, com certeza vai incomodar em um fechar e abrir de olhos. Aumente tudo que vês e te faz feliz, corrija o que não amas, persiga o que acreditas os teus olhos não enganar.