Solidão.

Pego-me muitas vezes olhando ao redor, sem saber o que estou procurando.

Vejo tudo o que sempre vejo, a mesa posta, as portas abertas, as pessoas circulando, os pássaros cantando. Mas mesmo assim tudo parece ser um vazio imenso que não cansa de se aprofundar cada vez mais.

Não que eu esteja só, de verdade.

Mas às vezes uma sensação de carência nos toma conta tão profundamente que é díficil saber se estamos sozinhos mesmo ou não. Ou talvez isso só aconteça comigo mesmo.

Eu nunca tive alguém que pudesse chamar de meu só meu, nem algo. Só a matéria. Parece que tudo que eu amo, que não seja só feito de matéria, tem de ser dividido. E às vezes tudo que eu amo parece ter uma tendência a me rejeitar. Talvez eu imagine isso. Mas as lágrimas que brotam de meus olhos mostram o quanto me afeto.

O quando dói pensar, pelo menos pensar nisso. Quem já disse que me amava, se não me deixou, está dentro da minha família. Os meus animais de estimação não moram comigo, e todas as vezes que os vejo, passo algum tempo com eles, vejo em seus rostinhos tão lindos, ou talvez imagine, que só estão comigo porque não tem escolha, eu simplesmente os agarro como uma necessidade, porque é tão pouco tempo.

Tantos beijos em testas e em faces. Tudo parece ser uma divisão.

Não sei se tem algo haver com o divórcio dos meus pais quando eu era uma criança, tanto faz. Passo na mão de um de de outro, ambos me acariciando e dizendo que eu sou tudo. Só sei que a cada dia que passa eu me sinto como uma brinquedo, jogado de lado quando não se é mais útil. Não nego que meus pais me amem. Sim, eles me amam. Mas será que isso é suficiente pra mim? Eu sofro por não poder ter os dois pais ao meu lado ao mesmo tempo, mas jamais demonstrei. Sofro por ter que dividi-los com outras pessoas. DANE-SE. sou mesmo ciumenta. Mas do que adianta se o amor deles continua sendo o mesmo, se não é o deles necessariamente que eu esteja necessitando nesse momento?

Eu queria que alguém estivesse pensando em mim nesse momento, lembrando do meu rosto, me querendo perto.

Não, eu não estou sozinha. Mas é como se eu sentisse a solidão me abraçando a cada parte do meu dia, só porque alguém me responde atravessado ou só porque as conversas ficam sem assunto, monótonas e entediantes, como se tudo comigo se tornasse um hábito descartável.

Ou talvez eu esteja pirando.

Só sinto uma necessidade imensa de carência, de alguém para me abraçar, de alguém para me amar, de alguém que seja MEU,.

Sinto minhas amigas, mais próximas umas das outras do que são de mim. Sinto uma linha tênue de cotidiano, entre minhas conversas com meus pais, como se tudo fosse perfeito por fora, enquanto tenho meus conflitos internos. Sinto que meus bichos de estimação não me querem como me queriam antes. Sinto que as pessoas parecem me repelir.

E choro por qualquer coisa, se alguém me responde de atravessado ou se o gato não suporta ser mais sufocado por meus braços, embora gostem de mim, tomo isso como uma rejeição.

Me sinto SOZINHA.

Torço para que sejam apenas tempos díficies. Afinal eu ainda sou jovem, tenho uma vida pela frente e não posso ficar me torturando pensando numa solidão que não existe de fato.

Escrevendo tudo isso eu até me sinto patética, só que um pouquinho melhor, como num desabafo.

Mas penso que tenho que respirar fundo.

Penso que eu estou louca, que todos da minha família, amigos, os animais de estimação me querem bem, e que vou encontrar alguém que seja MEU, e que me ame profundamente. E tenho a Deus pra sempre pra me acompanhar.

Tudo vai dar certo. Confio.

Por que se eu ficar pensando que não vai dar, vou enlouquecer.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 17/01/2011
Código do texto: T2733714
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