Ele.

Ele. Os cabelos desgranhados no tom mais estúpido de castanho-claro, que se põe em um penteado sempre irregular, com o volume concentrado na parte frontal, desajeitando-se charmosamente com a brisa. Os olhos contornados por cílios grandes e piscantes que cintilam com toda sua cor, uma cor que ainda me sinto (por mais idiota que isso pareça ser) incapaz de descrever. Talvez seja marrom. Um marrom brilhante que vai além do limite das palavras. O marrom que não é aquela cor entediante e feia. O marrom da casca de uma arvore, da terra mais cheirosa, do chocolate mais gostoso, destribuido nesses vários tons no orbe, que insiste em não parar de reluzir mesmo na escuridão, como feixes de luz faiscanes no escuro da noite. O rosto com traços imperfeitos, só que mesmo assim parecem transparecer uma exatidão, com sua linha de seriedade na testa, as maçãs sempre pálidas e desproporcionais ao queixo, mas que mesmo assim parecem soar tão belas. A pele, branca, mas não de uma forma enjoativa e medonha, um branco suave, destribuido em todo corpo, recebendo um pouco de rubor no rosto. Pele às vezes molhada de suor, mas não aquele suor asqueroso, um suor vitorioso de quem acabou de fazer dois gols correndo no campo de futebol. O sorriso dele, aquele sorriso que sempre parece conter alguns resquícios do sarcasmo invencível, como também mostra uma serenidade e paz que só ele consegue ter em todos os momentos. A voz dele que ao mesmo tempo que pode ser rouca e infantil, pode ser uma voz masculina grossa e autoritária, num timbre que em qualquer das duas ocasiões é SEMPRE melodioso. O estilo despojado de andar, colocando um pé na frente do outro sem medo de ser confrontado, porque ELE é capaz de derrotar. O modo de se vestir, o jeito com que ele deixa os fios da touca do agasalho azul-marinho dessamarrados, o modo que ele ajeita o boné estúpido. O jeito dele ser, um jeito esnobe e sempre cínico, que despreza os menos dotados e esbanja com os mais dotados. Um jeito que não consegue deixar de ser iressítivel. O seu coração frio como gelo, como pedra, que jamais vai conseguir ter algum mérito, tão diferente de sua aparência externa. A capacidade que ele tem de me deixar tremendo, mesmo quando estamos a mais de três metros, a forma como minha pele arrepia quando ele chega perto, o modo como minhas estranhas congelam só de ouvir a sarcástica voz dele emitindo uma ironia caçoadora, e o nome dele que me persegue aonde quer que eu olhe trazendo o seu rosto. A pessoa mais estúpida que existe na face da terra, que ao mesmo tempo que só merece o meu ódio, consegue involuntariamente fazer-me escrever tudo que vejo quando olho para ele. A pessoa que mais pode merecer meu rancor, mas só o que ele consegue é me deixar cada vez mais louca e irrevogavelmente apaixonada. Esse. É. Ele.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 30/01/2011
Código do texto: T2761651
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