EFÊMERA VIDA

Coisas efêmeras fazem do homem um ser tão arrogante

Mal sabe esse ser tão inteligente que por sua brevidade não compensa sua arrogância

Sua transitória respiração

O sangue correndo em suas veias

O pulsar do coração

O patrimônio que construiu

Até mesmo sua apropriação indébita da força de trabalho alheio

Suas mansões luxuosas

Seus imponentes palacetes

Seu vôo aéreo, tal como a sua ascensão

Como um motor a propulsão te fez subir tão alto que te esqueceste de olhar para pro chão

Esqueceste tua origem, desprezas tua raiz

Teus alicerçares vão ruir

Tua construção virá abaixo

Que adianta tanto orgulho

Porque ficaste tão perverso?

Tua ideia de progresso elevou tua soberba

Pensas até que é um deus

Acreditas mesmo na tua força?

Pensas que é onipotente?

Esse teu poderzinho de merda

Essa tua fama infâmia e insensata

Esse teu sucesso logo passará

Tua riqueza apodrecerá tal como a tua carne num mausoléu silencioso

Tua lápide terá uma única inscrição:

- “Aqui jaz o senhor sucesso”

Tua carne os vermes devorarão

Ainda pensas que é todo poderoso

Desafias a Deus e os homens

Ostenta tua riqueza como se ela fosse eterna

Teu orgulho cego te faz pisotear os mais fracos

Tua soberba contamina os teus filhos

Verme vulnerável

Tua indulgência não te livrará da queda

Quantos impérios caíram?

Quantos poderosos homens naufragaram?

Quantas belezas encantadoras hoje não passam de rugas, rugas envelhecidas

As marcas de tua falência estão em teu rosto

Porque ficaste tão amargo? Ranzinza?

Olhas para trás e o que vê?

Que fizeste de bom?

Onde estão aqueles que construíram suas mansões?

Onde estão aqueles que transformaram suor em riquezas para teus deleites?

Onde está a criança que desprezou no farol?

Onde está aquela que preparava os teus banquetes e jamais foi convidada a assentar-se à mesa?

Onde estão aqueles que adoçaram teu café da manhã?

Não adianta meu amigo, todos nós somos passageiros do tempo, e teu tempo, dura tão pouco

Quanto tempo falta para cessar teu respirar?

Como um sino que retine, não haverá melodia em suas notas

Chegou a hora do teu silencia

Você que calou tanta gente, agora nem poderás mais abrir a boca

Você que orgulhosamente escolhias tua marca de grife, e agora?

Nem podes mais te vestir, outros colocarão uma roupa em ti, te vestirão sem que você saiba

Pisaste em seu semelhante e agora serás carregado pelas mãos dos outros num caixote de madeira

Não há mais tempo para refletir, pois estás perdendo a memória

Já não reconheces teus parentes

À noite deliras em teus pesadelos e vê imagens funestas de quem tanto explorou

Tuas lembranças te trazem a morte

Tua tortura é saber que já não podes mais fazer nada para te redimir de tuas maldades

Teus insultos fizeram muita gente chorar

A justiça não conseguiu te pegar

Encontrou brechas na Lei e escapaste com tua riqueza por entre os dedos da justiça

Tua balança agora pesa mais que a dos outros, e o fiel aponta o peso da tua maldade sem limite, não tem quem te livre

Teus sentimentos precedem o teu martírio e até na morte tua reputação te persegue

Sinistro, desgraçado e infausto

Profanaste o sangue inocente com sua insana sede de lucrar cada vez mais

O gosto que sentes é o gosto da morte

Tuas obras de caridade, aquela merreca que doaste todos os anos às instituições de caridades

Tua falsa filantropia não te livra da falência dos teus órgãos vitais

Tua falência será múltipla, perderás tua riqueza e, tuas energias

Pensas que irá sair dessa?

Com tua esperteza driblou a justiça

Comprou o juiz

Subornou a promotoria

E agora, quem é esse ser necrófilo, figura exdrúxula com a foice em punho que de ti se aproxima?

Você se apavora, mas não pode fazer nada

Um corpo de água negaste, julgando-se ser o senhor das águas

Pensavas que era um oceano, mas não passavas de um riacho intermitente, um córrego que corria pro nada, uma reles lagoa ou lago efêmero, um poço fético

Assim foi a tua vida em meio as riquezas

Agora agoniza em tuas próprias fezes, precisas de alguém para trocar suas fraldas porque defecas em si mesmo

Durante as crises não enxergastes que tua riqueza brotava das costas dos outros como águas intermitentes ou sazonais, mas não duraria para sempre.

Fluxo efémero era teu cambio flutuante

Valeste-te da mais-valia sem avaliar e reconhecer o valor dos outros

Tua remuneração condenou muitos à pobreza

És responsável por uma grande multidão de desvalidos

E nessa épica epopeia de vida ainda tentaste passar por herói

Teu texto nem é tão extenso e ainda chamas de epopéia

Acumulaste uma coleção de feitos

Fatos históricos dos quais não estiveram presentes aqueles a quem explorou

Não esteve presente o teu pedreiro, a tua faxineira, o teu professor e nem aquele que dava lustro em teus sapatos.

Onde foi parar o teu motorista?

Acredita mesmo que conquistaste um império, sozinho?

Queres passar como herói, não bastou apropriar-se das riquezas e do trabalho alheio, agora quer se apropriar também dos fatos históricos sozinho?

Queres eternizar-te colocando uma placa de bronze em uma praça onde não colocaste um tijolo?

Até onde vão tuas pretensões?

Esse teu poema heróico narrativo extenso não passa de uma coleção de feitos que outros fizeram sem reconhecimento algum de tua parte, fatos históricos de vários indivíduos, reais, não-lendários nem mitológicos, mas seres reais que você em sua arrogância desprezou.

A epopéia eterniza lendas seculares e tradições ancestrais, preservadas ao longo dos tempos pela tradição oral ou escrita, mas de você, mas você subestimou o presente esqueceu-se do passado e repetiu os mesmo erro de teus pais

Tua vida foi uma “Odisséia” de prazeres, uma mistura de luxo e luxúria

Mas agora, tudo acabou

Tuas mãos trêmulas já não suportam o peso da chibata

Castigou tantas pessoas, e agora terás que suportar teu próprio castigo

Tua alma sangra e pede socorro

Teus lábios ressequidos te fazem delirar de sede enquanto todos dormem

Já não podes mais gritar como fazia antes com teus subordinados

Ninguém escuta os teus gemidos

Tua Ferrari apodrece na garagem até que vá a leilão

Teus filhos estão devendo para o Estado e não poderão usufruir da herança que deixou

Enriquecestes ilicitamente, enganaste até o fisco e em vida não passastes de um agiota

Devias receber a medalha de estelionatário do século

Lembra-te de quando era moço?

No vigor de tua saúde passou a perna nos outros

Distorceu os fatos e mentiu

Para subir na vida puxou o tapete de outros

Eliminou sonhos, violou a ética

Adulterou documentos e mudou os princípios

E hoje, onde estás?

Tua mesquinhez não o deixou ver o quanto a vida é efêmera

Teu egoísmo e ganância não o deixou enxergar que o poder que tinhas era tão breve e incerto quanto os seus pensamentos

O capital corroeu o teu cérebro e a sede de lucro cauterizou tua mente

Você é um nada, uma aberração, produto do sistema que inventou

Você brincou de ser Deus, conquistou o espaço e deixou tua marca na Lua

Que pena, com toda a tua genialidade foste na verdade um asno

Poderias ter ficado na caverna de onde saíste

Você inventou o cultivo e fez a “Revolução Agrícola”, e com ela inventou o celeiro para acumular e ter mais que o outro

Inventou a cerca para proteger o que supostamente é teu

Inventaste o soldado para vigiar tuas propriedades

Criastes exércitos para conquistar mais terras

Invadistes culturas e destruístes florestas

Pervertestes os costumes dos povos e te julgastes superior

Quem és tu que mudas o curso da natureza sem pensar nas conseqüências?

Até o sexo tu perverteste e ainda dizes que é normal?

Homens inflamam-se contra homens e mulheres contra mulheres

Transformas o prazer em prostituição

Tuas relações já não são mais humanas

Tua única afinidade é o negócio

Estudou para se tornar um traficante de abobrinhas e ainda pensas que é sábio

Não passas de um troglodita evoluído

Jamais deixaste tua condição de neadertal, erecthus e outros similares

Mas por conta de ter adquirido um pouco mais de habilidade te chamaram de Homo Habilis

Mas tua linguagem ainda era rudimentar

Quando pensavas que sabia de tudo te chanfraram de sapiens

Superaste a Era do Gelo

Descobriste o fogo

Fundiste metais e inventaste o bronze

Mas depois que conhecestes o ouro ninguém mais te segurou

É você evoluiu mesmo

Uns dizem que Deus o criou

Ou foi você que criou Deus, crenças e religiões?

Você criou lendas, mitos e filosofias intrigantes

Voou acima das densas nuvens

Encurtou a distância, mas ficou mais longe do teu próximo

Você virtualizou as relações e tornou frio o calor humano

Aos poucos vai fazendo uma devassa substituindo seus irmãos pela máquina

Você irá travar a máquina do capital, irá provocar uma pane mundial sem precedente

Tudo por conta de tua ganância

Teu lixo, tua sujeira juntam-se à tua insensatez

Contaminas os rios e acaba com a vida na Terra

Poluis o ar, as águas e o espaço

O asfalto que lhe oferece conforto promove os alagamentos

Pessoas e objetos são levados pelas águas como objetos

Você está em sua mansão de luxo aonde a água não chega

Mas num incêndio teus moveis viram pó e você voa pela janela, pula do último andar

Espatifa-te no chão como uma jaca madura

Oh, como é efêmera a vida!

Como é efêmero o poder!

Como é efêmero o sucesso!

Deixe de lado essa loucura por riqueza, sucesso e fama

Abrace quem está do teu lado

Aproveite o pouco de vida que tens

Entre na dança, cais na festa e ame

Porque o amor não é efêmero

Eternize os momentos pelo amor, e não por uma placa de bronze em uma praça

Viva a felicidade a contra-gotas e não queira ser feliz só hoje

Você consegue sorrir?

Você ainda consegue brincar sem ofender o outro?

Você consegue se ver no outro?

Consegues brincar como criança

Por que não deixa essa loucura em que vives e vá correr pelos campos

Sentir o cheiro da terra molhada, o orvalho que cai pelas manhãs

Saia da “caverna” e volte a ser natural!

Contemple a beleza das rosas!

Sinta o perfume das flores!

Valorize mais quem está do teu lado!

Curta uma piadinha besta com os peões e tome um drinque com eles!

Se você tem um coração que pulsa, teus subordinados também têm

A única coisa que o torna diferente é o teu capital, mas isso logo acaba

Ficam na lembrança para sempre as boas amizades

O carinho dispensado

Os momentos bem vividos

A solidariedade e companheirismo

E a tua biografia jamais será esquecida

Davi deixou sua biografia de “Um homem segundo o coração de Deus”

Salomão deixou a biografia de um homem mulherengo e auspicioso

E você, que biografia quer deixar?

Construímos nossa biografia com os nossos atos

Podemos passar para a História como alguém que fez o bem ou como quem maltratou os seus semelhantes

Podemos passar pra História como egoístas ou solidários, como companheiros ou adversários

Podemos passar para a História como quem cresceu e sonhou junto com outros ou como quem conquistou e sonhou sozinho

Mas saiba de uma coisa

Sonhar grande é sonhar com todos e a maior conquista é coletiva

Somos todos dependentes uns dos outros

Ninguém é uma ilha

Somos todos semelhantes

Independente da cor, do credo religioso, da aparência, ideologia ou condição econômica...

Somos todos iguais!