Ciclos


      Assim como as estações do ano vem e vão, a minha vida acontece em ciclos. Após um determinado intervalo de tempo tudo parece voltar ao mesmo ponto — parece, mas na verdade não volta, pois o ponto nunca é o mesmo. Assim como a primavera deste ano não será a mesma primavera do ano que vem, os verões e invernos de minha vida nunca são os mesmos. Apesar de ser possível observar um certo padrão de repetição, há sempre uma perspectiva nova, tudo se banha com uma nova luz, um novo olhar. O mesmo já não é mais o mesmo quando nós mudamos.

      Gosto de pensar em espirais, que representam graficamente ciclos ascendentes. Conforme a espiral evolui um determinado ciclo se fecha e o mesmo ponto é atingido — mas não exatamente o mesmo ponto pois o patamar já é outro, mais elevado. Se o ponto fosse exatamente o mesmo então não seria uma espiral cíclica mas sim um círculo e, como tal, fechado e redundante. Mas não caminhamos em círculos, caminhamos em ciclos, sempre evoluindo.

      E a cada ciclo que se fecha um novo começo parece surgir e é neste recomeço que podemos refletir e pensar sobre o que passou e o que virá. Meditar e escolher.

      Conhecer vs Saber 

      Uma pessoa pode conhecer tudo sobre maçãs: que a macieira é uma árvore da família Rosaceae, do gênero Malus, e teve origem na Ásia Central; que a maçã contém as vitaminas B1, B2 e Cianina; que é rica em quercetina, substância que ajuda a evitar a formação dos coágulos sanguíneos capazes de provocar derrames; pode conhecer detalhes sobre sua história, informações nutricionais e classificação científica. Mas ela nunca saberá verdadeiramente o que é uma maçã se não der uma bela mordida e sentir seu sabor, seu suco, seu aroma e consistência. Conhecer é diferente de saber. Conhecer está para o intelecto assim como saber está para os sentidos. 

      A palavra saber vem do latim sapere, que significa sabor. Saber é sentir o sabor, provar, experimentar, experienciar, vivenciar. Saber é mergulhar em uma determinada experiência privilegiando o fazer e sentir em detrimento do raciocinar e conhecer. Conhecer muito não significa ser sábio e, ser sábio, não implica necessariamente conhecer muito. Como a sabedoria se dá com a vivência e experiência, muito raramente vemos uma pessoa jovem que seja sábia. A sabedoria só vem com o tempo.

      Um novo ciclo

      Eu sinto que estou entrando em um novo ciclo onde privilegio o saber. Quero também conhecer mas, sobretudo, saber. Experimentar e provar. Quero ler a resenha sobre um filme e ir ao cinema para assisti-lo. Quero estudar as técnicas e filosofia do yoga e praticá-lo com regularidade, sentindo no corpo todos os seus benéficos efeitos. Quero conhecer os valores nutricionais dos alimentos e degustar as matizes infinitas de seus sabores. Quero ler sobre os trabalhos de Michelangelo e Botticelli e entrar, ver e sentir o cheiro da Capela Sistina. Quero ler poesias de amor e, com meu corpo e alma, amar. 

      Reconheço, porém, que desejo intensamente saber mas quase nada sei. Sempre fui mais inclinado ao conhecimento do que pela sabedoria. Quero privilegiar o saber mas ainda sinto-me preso e seduzido pelo conhecer. Pelo menos, esta é a minha sincera intenção, e é para lá onde viro o leme; é para lá onde miro o meu insaciável olhar, para o saber. É um novo ciclo em minha vida onde quero adentrar, imergir e saborear com as "papilas gustativas" do meu corpo inteiro. 


Janeiro de 2011

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Este texto faz parte do exercício criativo "Recomeço".
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