Nunca pensei tanto...

Puxa vida, quanto tempo passou. Quantas mudanças, tantas perdas e incontáveis ganhos.

Nunca rogozijei tanto com sorrisos infantis, nunca havia sentido tanto medo de perder algo tão precioso, pois nunca havia percebido tudo de precioso que sempre tive.

Deixei tanta coisa para trás, para poder pensar em tanta coisa à frente.

Mudei tanto. Minha cara no espelho revela as rugas e os cabelos brancos. Meu fígado já não suporta as carnes gordurosas e as incontáveis canecas de chopp. Quem nunca tinha tido dor de cabeça, agora não vive sem neosaldina.

O dinheiro que nunca dava, hoje não sobra, mas também não falta.

As goteiras me preocupam, o sofá está em frangalhos e o portão emperra. Arranco as ervas daninhas com as mãos, sem ficar preocupado com a terra sob as unhas.

O câncer anda a consumir alguns velhos amigos. As drogas tentam enterrar outros que um dia riram comigo.

Nunca reclamei tanto, estando tão contente. Nunca agradeci tanto, mesmo estando em apuros.

Nunca pensei tanto no passado. Nunca havia perdido o sono pensando no futuro.

Hoje tento ser sólido como a rocha, duro como o metal, seco como a areia do deserto. Mas quando fico só, engulo meus sapos e meus pecados. Fecho os olhos e cerro os punhos, mas deixo a lágrima rolar.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 14/03/2011
Código do texto: T2847007
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