SOU...

Quem sou eu para contar a história

se nem percebido consigo ser?

Percebido pelo meio, pelos vizinhos,

pelos patrões, pelos parentes, pelos padrões,

pela diferença que fariam meus feitos...

Pela complacência de ao menos um notável!

Pela displicência de alguém importante num momento de generosidade!

Quem sou eu para querer ser alguém,

se nem a palavra me é amiga?

Se gasto o tempo apenas na lida

sem tempo pra lidar com a vida?

Que pretenderia com esta forma nula de existir?

Decidir? Competir? Compelir? Influir?

Que disparate pensar assim, ainda que em raros lampejos!

Qual arte me tiraria do limbo entre o medíocre e o inócuo?

Qual parte estimularia?

Quem de exemplo seguiria?

Quem seria se fosse alguém?

Quem reconheceria que era eu, ali... Sendo alguém...

Que eu acharia de mim então?

Fabuloso? Vaidoso? Orgulhoso? Lustroso?

Seria assim... Alguém de quem se fala!

De quem se comenta!

Precisaria continuar sendo alguém de feitos inesquecíveis, definitivos...

Alguém de fibra! Alguém de força! De cultura! De carisma!

Que quebrasse regras! Que criasse regras!

O que precisaria ser para ser alguém?

Político? Atleta? Escritor?

...pessoa... ...É o que apenas sou.