Sábado
A segunda-feira é uma necessidade. Assim damos valor ao fim-de-semana. Quanto mais cinza melhor, pois assim agradeceremos ao Criador pelo sábado amarelo. Por isso o sábado é o dia de descanço. Da preguiça. Sim, o dia santo festeja o nada. O fazer nada. O ficar à toa. O sorrir sem sentido. O conversar coisas tolas. Rever gentes boas. O olhar distante sem encontrar nada. O caminhar a esmo. Contemplar como os antigos gregos. Percorrer o caminho de Sócrates. Deter-se diante de coisas banais. Ser banal. Ser tolo. Ser ingênuo. Ser crédulo. Acreditar no amanhã. Acreditar que amamos uns aos outros. Ser idiota. Livrar-se de Raskólnikov. Apaixonar-se por Dostoiévski. Confessar-se apaixonado pela vida como ela é. Ser criança. E ficar plenamente repleto da graça divina. Porque é gratuita. E no sábado tudo é gratuito. Baixemos uma lei, no sábado tudo é gratuito. Desde o olhar doce da infância até o olhar fatigado das experiências infinitas anciãs.