Além da superfície

Se eu começar assim “Vou lhe contar uma das minhas experiências de vida...” talvez seu primeiro impulso seja pensar que sou uma dessas pessoas bem vividas (terceira idade?), com uma história pra cada ruga. Nada contra, mas não é meu caso, então por mais tentadora que seja a idéia desse começo, resistirei.

Deixemos pra lá esse negócio de experiência de vida. O que quero dizer é que quando observamos as coisas a nossa volta, independente da idade, podemos aprender muito e essas percepções são um tipo de norte pras nossas escolhas. É preciso, constantemente, estarmos fazendo uma análise do que aprendemos, assimilando as coisas, pra que não sejamos como muitos por aí, que têm acesso as melhores idéias, mas só as usam como frase pessoal no MSN/Twitter/Facebook/tudomais.

Vamos falar um pouco sobre como nos enganamos com as pessoas. Em especial, quando as “julgamos” por aparências. É, eu sei. Isso é algo muito feio de se fazer e espero veementemente que eu não seja a única mortal no mundo que o faz (involuntariamente, claro) de vez em quando. Na condição de humanos, por vezes aprendemos coisas e no instante seguinte agimos como se nada tivéssemos aprendido. A gente erra, erra e erra! Mas a esperança é que um dia realmente aprendamos de uma vez por todas. A mesma esperança de Shakespeare escrevendo sobre coisas que um dia a gente aprende.

Sabe quando você vê alguém pela primeira vez ou outras vezes talvez, mas ainda não conhece essa pessoa? Esse conhecer ao qual me refiro aqui é algo como conviver ou passar alguns momentos suficientes pra notar o que essa pessoa sente, pensa, anseia, coisas desse tipo. E então você sem conhecer, acha aquela pessoa linda ou feia (vejo você pensar “não existe gente feia, e sim mal arrumada!” Ou como recebi um e-mail esses dias “Eu não era feio, eu era pobre”. Tudo bem, que tal desinteressante?). Em que você se baseou? De duas uma: pelo que vê ou pelo que ouve sobre ela. Ou seja, aparências. É apenas a superfície. O verdadeiro jeito de ser das pessoas está na profundidade. É lá que elas escondem seus segredos, medos e delírios. Coisas que não se conhecem apenas olhando por fora. Essas são coisas percebidas aos poucos.

Pois então, aqui estamos. Achando determinada pessoa isso ou aquilo. E o próximo passo, se a sorte estiver do nosso lado (ou falta de sorte, em alguns casos) é termos a oportunidade de conhecer essa pessoa. Quantas surpresas!

Quantas pessoas já mudaram no meu conceito (ou seria pré-conceito? Não no sentido pejorativo, por favor) diante dos meus olhos em questão de breves momentos. É como ganhar um presente numa caixa linda, toda colorida, daquelas que não dá nem vontade de abrir pra não desmanchar o enfeite e daí quando você abre e percebe que caiu numa armadilha, todos já estão rindo do tal presente falso e da sua cara de decepção. Pura sacanagem. Escolheram a dedo algo que frustraria aquela sua expectativa delirante. (os engraçadinhos adoram fazer isso em amigo secreto)

Já perdi as contas das vezes que olhei pessoas e achei-as maravilhosas. E me deu aquela vontade de conhecer e quando conheci me decepcionei. Em uma das vezes a decepção foi tão grande que sinceramente se eu pudesse voltar atrás e continuar apenas achando teria sido melhor pra mim e sem dúvidas, para o outro. Poxa, há pessoas que só sabem falar abóbora (nada contra, dizer umas de vez em quando, faz até bem, mas só isso não tem estômago que aguente!). Parecendo aquelas árvores bonitas por fora, e quando você olha a raiz, toda podre. Umas atitudes antiéticas e grosseiras, uns comportamentos atravessados.

O outro lado disso é mais interessante. Você vê alguém que aparentemente não tem nada de interessante. As circunstâncias permitem que se conheçam e o que acontece? Você sente até remorso. Como ousou pensar que aquela criatura não era interessante?! E descobre pessoas inteligentes, amáveis, leais e fascinantes. Passa a achar aquela pessoa linda e a admirar sua beleza, independente de atributos físicos. Aí sim a frase “a verdadeira beleza vem do coração” faz sentido.

Acontece muito também de nada disso acontecer! Você de repente nunca passou por isso ou nem comete os mesmos erros que eu. Mas se algum dia acontecer com você, fica a dica, tente sempre ir além da superfície.

Jordana Sousa
Enviado por Jordana Sousa em 23/05/2011
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