Aconteceu no "buzão"

Antes mesmo de discorrer acerca do que aconteceu no buzão, é necessária uma ligeira explicação. Buzão, como se diz em Venda Nova (BH), é balaio, que é ônibus.

O fato ocorreu, na realidade, fora do buzão, na fila de espera.

A fila de espera é formada, na realidade, por duas filas. Uma, da direita, onde ficam as pessoas que querem escolher lugar para se assentarem no ônibus. Essas pessoas aguardam a melhor posição, quando, então, passam para a fila da esquerda e embarcam.

A outra fila, da esquerda, é formada por pessoas que querem pegar o ônibus, não interessa onde vão se assentar. Claro que os primeiros colocados podem escolher o assento que querem.

Para o controle dessa fila, da esquerda, temos três controladores de fila, sendo um magrinho, que enfrentou o Diogão, e dois mais fortes, para não falar gordos.

A coisa funciona, mais ou menos, assim: toda vez que sai um ônibus, ele vai ocupado pelo pessoal da fila da esquerda. O que põe fim à fila da esquerda é um dos controladores de fila, que vem ao seu final, trazendo atrás de si uma nova fila. Nessa nova fila, vão entrando as pessoas que já estão na fila da direita e quem mais chegar. Todas as pessoas que estão na frente do controlador de fila têm que entrar no ônibus que sai. Ninguém que esteja na frente do controlador de fila pode ficar para o próximo ônibus e, assim, sucessivamente.

Um passageiro, que não conheço, muito esperto, aqui chamado de Diogão, estava na fila da esquerda, na frente do controlador de fila, fumando o seu cigarro. Quando chegou na hora de embarcar, disse ao controlador de fila que não embarcaria naquele ônibus, porque ainda estava a fumar. Ocorre que ele, sendo o último da fila da esquerda, ficaria na frente de todos os da fila da direita, o que, para a boa educação e respeito, é uma afronta.

O controlador de fila, já alterado, disse-lhe que ele deveria embarcar naquele ônibus e o Diogão disse que não embarcaria.

O controlador de fila, mais alterado, disse-lhe que, então, teria que voltar para o final da fila da esquerda, para embarcar, quando o Diogão disse que não.

Nesse momento, o controlador de fila, mais alterado que no primeiro momento, disse que o Diogão não entraria no ônibus, sendo instalada a grande confusão.

Inicialmente, Diogão, que ainda fumava o seu cigarro, permaneceu na frente da fila da direita, fila esta que vai para a esquerda, sempre que as pessoas que ali estão decidem embarcar no próximo ônibus.

Quando a fila da direita foi para a esquerda, advinhem quem era o primeiro colocado, contrariando todas as regras da boa educação e respeito? Isso mesmo, o Diogão.

O controlador de fila, mais exaltado que exaltado que estava, disse, mais uma vez, ao Diogão que ele não entraria no ônibus. Iniciado o bate boca, Diogão respondeu que só sairia na porrada. Mas o controlador de fila disse que ele não entraria, motivo pelo qual não lhe tiraria do interior do ônibus na porrada.

A partir daí, até quem estava dormindo na fila acordou. Todos queriam ver o embate físico de Diogão e o controlador de fila, que, como dito, era o magrinho. Talvez por isso é que Diogão estava tão animado para a coisa. Diogão não foi assim chamado à toa. O cara era gordo, para não dizer forte.

Diogão, por sua vez, havia esquecido que além do controlador de fila, magrinho, que com ele discutia, mais dois, gordinhos, aguardavam, ansiosos, olhando de longe, o momento para ajudarem a impedir que Diogão ingressasse no ônibus.

E assim foi feito. O ônibus encostou, abriu a porta, e lá ia Diogão para o embarque.

O controlador de fila, usando de suas duas mãos abertas e braços esticados, bateu-as no peito de Diogão, empurrando-o para trás. Diogão, abrindo seus dois braços para a frente, tentava desvencilhar-se das mãos do controlador de fila, momento em que os outros dois controladores de fila, mais cheinhos, chegaram e impediram, juntamente com o outro controlador de fila, que Diogão, o folgado, adentrasse ao ônibus.

Depois que toda a fila da esquerda entrou no ônibus, Diogão foi liberado para, também, entrar. Entrou, resmungou algo que ninguém conseguiu distinguir e desceu.

Acho que o Diogão entrou no ônibus de vergonha do pessoal das filas do lado de fora. Acho, também, que o Diogão sai do ônibus, com vergonha do pessoal que estava lá dentro.

Pensando bem, acho que o Diogão deveria era ter voltado para o final da fila, lá no começo dessa história, quando o controlador de fila, magrinho, disse para ele que deveria embarcar no ônibus ou voltar para o final da fila.

Moral da história: quem não faz o que deve, passa pelo que não quer.