Palavras de Anjo, Sussurro de Demônio
A morte surgia ante meus olhos. Tudo era escuro e frio. E vazio. Não sentia mais dor. A ânsia de choro era presa pela falta de força. O vazio a frente estava distante pela falta de vontade. Respirar era uma atividade quase impossível. O corpo não queria funcionar. Nada reagia. A morte se esvaindo pelo desânimo do próximo passo. A vida se esvaindo pela falta de vontade de continuar.
Corpo suado. Nem de frio, nem de calor. Apenas um esforço de produzir lágrimas. Cada poro tentando expulsar a falta de uma presença. Olhos inchados, sem sabero que é sono. Lábios secos, sem saber o que é água. Corpo morrendo, sem a presença do que é vida.
O céu tornou-se inferno. O perfeito se fez defeituoso. A alegria se congelou. O trabalho mostrou-se inútil. Pedra sob pedra, construída. Derrubada, feita pó, lançada ao vento, espalhada, esquecida. Feito sonho que se perde. Feito vida que se esvai.
Minha alma condenada a servidão por mim imposta. Mentiras. Verdades. Fatos que só a vida sabe. Dizeres que só as letras ouvem e como querem mostram. Sonhos de um poeta vivo que só sonha com a morte.
A vida surgia ante meus olhos. Tudo era quente e aconchegante. E pleno. A dor era forte. A ânsia de choro se convertia em lágrimas torrenciais. A felicidade a frente era sempre distante. Eu imóvel, ela fugindo.
Meu anjo afirma que ela estará comigo.
Meu demônio sussura: "Perdeu, meu bom amigo!"