os preconceitos têm mais raízes que os princípios

Essa é uma boa frase pra começar a pensar esse tema, o preconceito. O Houaiss diz: “preconceito Datação: 1817-1819
substantivo masculino
1 qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico
1.1 ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado, ponderação ou razão
2 sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância
Ex.: p. contra um grupo religioso, nacional ou racial
3 conjunto de tais atitudes
Ex.: combater o p.
4 Rubrica: psicanálise.
qualquer atitude étnica que preencha uma função irracional específica, para seu portador
Ex.: p. alimentados pelo inconsciente individual ”.
O Aurélio significa, entre tantas outras coisas: “(...). Princípio da individuação. Filos. Essência própria de cada um, e graças à qual se pode dizer, de cada um deles, ‘Ei-lo’: o singular, concreto, determinado no tempo e no espaço.”

  A frase do florentino Maquiavel está na minha cabeça desde garoto, quando tinha um poster dele com ela, a frase, afixado na parede de meu quarto. Meus amigos chegavam lá e diziam que deveria tirar aquilo dali, q’eu era maquiavélico e bababá, que poderia ser visto assim..., me xingariam assim. Cresci e saí da casa de meus pais, me mudei de casa tantas vezes que o tal do cartaz se perdeu sem que eu soubesse onde ele a escreveu, em que texto.
  Nessas mudanças, nesse percurso adolescência-adultidade, li algumas coisas do cara, inclusive, claro, seu livro mais famoso, O Príncipe (a edição era, é — ninguém conseguiu me larapiar — com comentários de Napoleão Bonaparte). Nessas lidas percebi que aquela frase é tão atual quanto fora no século 16, talvez até mais ainda que àquela época, por essa nossa ser marcada pela intolerância às diferenças, que quer a todo custo mundializar preconceitos mascarados de “princípios nobres”.
  Sobre a indignação de meus jovens amigos, sobre ela pouco ligava. Eu nada sabia do cara, apenas que muitos xingavam outrem de @#$%, seu maquiavélico!, querendo chamá-lo de ardiloso, ou qualquer coisa ruim que fosse. Eu achava a frase bacana pra caramba e a deixei dependurada na parede do quarto, me fazendo pensar até hoje, ou principalmente nos dias de hoje. Ela continha alguma coisa que deveria perceber — e percebi, na pele.
  Depois, naquele percurso ao adulto, lendo mais coisas que o sujeito escreveu, percebi que foi ele quem sacou legal pra caramba os comportamentos psicossociais, os mais socialmente preconceituosos, mas bem mascarados.
  Assim como Marx não se dizia marxista, Maquiavel não era maquiavelista — o resto são seus detratores. Os auto-entitulados seguidores dos pensamentos de figuras desse quilate, desse calibre, os istas que seguem os ismos, a maioria se diz assim ou assado por moda, ou, como hoje subjugados ao americanismo, se diz: fashion.
  Maquiavel sacou o que muitas vezes enchemos a boca, estufamos o peito e falamos tanta besteira legal pra chuchu, invertendo as bolas, sem percebermos que aqueles “princípios” não passam de simples e descabidos preconceitos... e os defendemos com unhas e dentes nos achando bacanas pra daná, vanguarda... prafrentex. Assim, acho mesmo que, percentualmente, agimos 80 % com nossos preconceitos; e eles, ainda assim, eles mascarando os apenas 20 % restantes, as ações de princípios.
  É que uma coisa se semelha à outra, a gente ficando todo confundido — fico atento a esse camaleão que se transveste a toda hora em “dragão do bem”.
  Isso aqui é um simples exercício de narração, e eu já falei do assunto que quis, o preconceito, já narrei um episódio do mesmo — a máscara de princípios que ele usa —, descrevendo seu personagem (eu, um eu mesmo subjetivamente), também como ele vê o mundo dentro do seu espaço... em seu tempo. Então agora, pra finalizar, falta-me concluir — epilogar —, sustentar a opinião (ou trama?) do narrador: não querendo estar certo, muito menos certíssimo, apenas sugiro que se perceba — mas o mais isentamente possível dos preconceitos —, que se perceba as atitudes dos Busch da vida, dos neo-Hitler que nos governam, e, acima de tudo sugiro que se perceba se percebendo nas relações pessoais e impessoais que no dia a dia e dia a dia nos deparamos, que nós próprios nos flagramos todo dia em nosso íntimo, laaá em nós próprios, nos nossos eus.

 
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 03/07/2011
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3072194
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