A majestade do homem

Extraído do livro O RIVAL: O Homem contra si mesmo (Jones Neves Filho - Filosofia.Humanidades)

Pág. 170: “Duas aves pousam na mesma árvore, uma num ramo alto, outra num ramo mais baixo. A ave do ramo superior permanece em tranqüila e pacífica contemplação do que ocorre em volta. Refletindo-se a luz na sua plumagem dourada, repousa em majestoso esplendor.

“A do ramo inferior salta nervosamente de ramo em ramo, experimentando as frutas. Encontrando uma doce, trina excitada; passando para outra amarga, cai em enojada depressão. Levantando de tempos em tempos os olhos, a ave do ramo inferior fica vagamente impressionada com a maneira magnífica como se comporta a ave do ramo mais alto. A ave nervosa anseia por ter a serenidade secreta da outra, mas logo esquece a ânsia quando uma nova fruta lhe atrai a atenção.

“Assim, para a frente a para trás, para cima e para baixo, ela pula, mudando em poucos minutos das frutas doces para as amargas, transformando-se o júbilo em desapontamentos e os sorrisos em lágrimas. Procurando apenas o doce, compreende em seguida, decepcionada, que este é sempre seguido pelo amargo. Não importa o que faça, o azedo se segue sempre. Olha esperançosa para a ave tranqüila mas, compulsivamente, volta à sua busca nervosa.

“Chega a ocasião, porém, em que bica uma fruta tão amarga, que já não pode mais suportar. Desencadeia-se a crise. Precisa escolher algo inteiramente diferente ou perderá a sanidade. Hesitante, salta para cima em direção à ave tranqüila, aproximando-se cada vez mais.

“Em certo ponto da tímida aproximação, ocorre um milagre: a ave inferior compreende que ela era a ave superior durante todo o tempo! Simplesmente não percebera. Em sua ilusão, pensava que havia duas aves diferentes, mas sabe agora que existe apenas uma – o seu eu unificado.

“Percebendo que os saltos nervosos eram dados em solução hipnótica, sabendo que ela mesma era a majestosa ave, transcende a agitação e a mágoa. Não mais procura a felicidade fora de si mesma, seu verdadeiro eu é a felicidade em si.”

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 05/07/2011
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