Não quero me tornar o que não fui

Escrevo sobre a vida e seus sabores (às vezes também pelos DESabores, pq rotina entedia).

Mas hoje mencionarei a morte. Não pretendo te assustar com um papo “funebremente” apelativo. Só mencionar uns pensamentos meus sobre o que tenho observado no que se desenvolve depois da morte de alguém. E, só pra constar, também não vou falar de vida pós-morte ou afins. Relaxa. Acho graça do que acontece com os detalhes da vida de alguém que morre. Repito, relaxa. (não vou tripudiar em cima das fatalidades alheias).

Reparo que quando uma pessoa morre o que ela fez, disse, escreveu, cantou, ou qualquer coisa assim tem a essência e a dimensão aumentadas. Explico. Tende-se a intensificar o que a pessoa era em vida. Se era boa, fica melhor. Se era ótima, fica perfeita, e por aí vai. Há até os ruins que ficam ainda piores. Exageros, é disso que to falando.

Se a pessoa escreveu um livro, ele pode até ter sido considerado um fracasso. Depois da morte a coisa melhora. Talvez até logre grandes sucessos. As palavras do falecido viram preciosidades. E são analisadas, medidas, admiradas, citadas e tudo mais. Vira obra de arte.

Se a pessoa cantava, começa a cantar mais ainda (nas gravações, óbvio). Quem conhecia quer relembrar, matar saudades. Quem não conhecia quer conhecer. E o sucesso pós-morte vem. Alguns vendem mais depois de mortos que vivos. Eu hein.

Outras, depois de mortas, são alvo de todo tipo de acusação, e surge tanta coisa, tantas histórias chocantes e duvidosas. "Enjudam"a pessoa (inventei, significa algo tipo acusar e criticar como se faz com Judas).

Quantos escritores, cantores, pintores (e tantos mais) conhecemos que alcançaram reconhecimento depois que morreram, enquanto que vivos passaram despercebidos e ignorados? Isso me soa tão hipócrita e irônico.

As atitudes também costumam ser desconfiguradas. A pessoa talvez tenha feito muita coisa errada, deu muita burrada, e prejudicou muita gente, mas morreu virou “santa”. Os erros são preteridos pelos acertos. Em parte isso é legal, preservar uma boa lembrança e tal. Mas o que acontece é que na maioria dos casos a realidade é distorcida, isso que me assusta. A pessoa começa a ser o que não foi.

Já parou pra pensar sobre o que dirão de vc quando morrer? Do que vc fez, falou, deixou? Isso me encabula. Quero deixar boas lembranças, mas quero mais ainda receber em vida as palavras que as pessoas só se dispõe a dizer depois da morte. O "eu te amo", o "me perdoa", o "vem comigo", o incentivo, e o velho “vc é (elas só querem dizer foi) uma pessoa admirável e nunca será esquecida”. E se tiver algo pra criticar, fale agora, ou cale-se para sempre.

UM PEDIDO: por favor, não distorçam o que fui. Contem a verdade, lembrem da verdade, e se isto não bastar pra dizerem que fui brilhante, não digam nada. Não quero me tornar o que não fui.

Jordana Sousa
Enviado por Jordana Sousa em 10/08/2011
Reeditado em 10/08/2011
Código do texto: T3152601