O Caminhante Faz Caminho Ao Andar.

 

 

 

O que teríamos nós dos pássaros e das aves, seriamos por vontade galinhas agora presas em granjas ou as de antigamente que ficavam soltas no terreiro?

 

Está no DNA do ser humano não ter destino e andar  ao léu, caçando e colhendo para comer, ter um amor em cada porto. Ficar trancado numa casa, numa rua, num ambiente, é contra sua natureza.

 

Maria da Graça é missionária de Igreja e muito” bem comportada”. Até que foi enviada para uma aldeia perdida no interior do Ceará. Acostumou-se com a liberdade de roupas, em primeiro lugar. Usar shortinho, camiseta e rasteirinha. Teve imensa dificuldade de readaptação à cidade. Seus olhos tristes de  hoje não negam que ela preferia viver por lá.

 

Eu os pés despelei de tanto caminhar meses nas areias quentes de Porto Seguro. Andava uns 10 quilômetros por dia, comia peixe do cozido, do assado e do cru e tomava água de coco. Comida enlatada, embutidos, nem ver. Não fazia falta.

 

Subi uma vez o caminho de  Penedo a Mauá, Rio de Janeiro, comecei a caminhada no final da madrugada e terminei com o Sol se pondo, voltei de carona num caminhão da Coca Cola. No percurso vi o Sol  durante todo o dia iluminar as montanhas:  ora azuis, ora verdes, ora douradas, ora cor de rosa ( cor de rosa mesmo!) fenômeno  que muitos acreditam  só seja visível nas montanhas do Vietnam.

 

Quando tive sede, apareceu um homem colocando o galão de leite para o caminhão frigorífico levar. Tomei leite do bom e do melhor. Quando senti que minha pele precisava de filtro solar, vi na beira da estrada de terra uma mercearia assim perdida no meio do nada, onde tinha um pouco de tudo.

 

Só não se pode caminhar aos domingos, devido ao pessoal das cidades: eles atacam justamente aos domingos, tem até musica que fala “ Never on Sundays”. Enjaulados em seus trabalhos durante a semana inteira, tendo apenas a televisão para alimentar suas fantasias, dão vasão à  agressividade praticando violências nas estradas aos domingos.

 

Tenho um sobrinho que organizou um grupo de malabares e circo que justamente se chama “Triandante”.

 

O que noto é uma profunda inveja dos que têm horário e obrigação de viver num espaço fechado, pelos que não têm horário e vivem no espaço aberto das ruas, à luz do Sol, no meio das árvores, das Praças.

 

Monteiro Lobato explorou bem essa tendência do ser humano no livro “Geografia de Dona Benta”, onde a família imagina-se num barco que dá volta ao mundo. Todo prazer que dá o contato com os ares diferentes, as comidas, os hábitos, as pessoas, os costumes é aí narrado.

 

E o que seriam os barquinhos de papel que as crianças põem para navegar nas enxurradas?

 

 

Lembro de mim pequena cavando  na terra do jardim e dizendo à meninada: se  fizermos um buraco bem fundo, bem fundo, por este caminho se vai dar à China...

luciana vettorazzo cappelli
Enviado por luciana vettorazzo cappelli em 16/08/2011
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