A Semente da Lembrança

Em suas últimas palavras ela termina assim seu texto: “É bom relembrar as coisas boas da vida!!”

Devo concordar contigo.

Lembrar...

Lembrar que outrora pude ver o brilho dos teus olhos e escutar a melodia das suas gargalhadas por maior tempo.

Desfrutar de idéias e pensamentos de uma tarde, regada a sorvete, gestos de afeto, gestos de carinho.

Concordo...

Concordo quando ela diz que é bom relembrar as coisas boas da vida.

Lembranças que começam como pequeninas sementinhas dentro de nós, e que basta nos decidirmos se vamos deixar aquela semente secar e morrer, ou se vamos germiná-la e dar doses diárias de “água” para poder vê-la cada vez mais forte, para que no momento certo desabroche e nos encha com suas flores e frutos.

Plantar dentro de nós. Acho que o termo é este mesmo.

Eu plantei uma idéia, ou será que foi você, que sorrateiramente deixou que um pedaço seu caísse em meu âmago e que ali se tornasse seu leito. Aconchegante, seguro de tudo. Apenas a escutar as batidas rítmicas do pulso da minha vida. E com o passar do tempo foi criando raízes, criando caminhos e fundindo-se com o ser, até estar de tal forma envolvida, que apenas se via uma única criatura.

Como será ter o desabrochar de uma flor dentro do peito? Ou talvez a pergunta certa a se fazer, seja, de como seria ter novamente uma flor a desabrochar no peito?

Algum poeta certa vez disse que podemos ler o mesmo livro por deveras vezes, mas ele nunca vai ser o mesmo livro desde a primeira vez que leu. Não que ele tenha mudado ou que você deixou de prestar atenção em alguma parte em especial. Mas sim porque nós mudamos. E nossa trilha de pensamento muda também.

Por isso diante das oportunidades da vida, por várias vezes nos permitimos pensar em como as coisas poderiam ser diferentes caso tivéssemos a cabeça que possuímos hoje em tal época. Como poderíamos ter evitado ou feito algo que realmente valesse à pena. E é aí que pedimos uma nova chance a vida. Pedimos uma nova oportunidade. E às vezes, desejamos que as pessoas esbarrem novamente em nossas vidas.

Mas há processos da vida que não devem ser encurtados, e por isso somos sujeitos a várias provações. Como disse um homem certa vez: “vi que erros somados a acertos constroem a vida de um homem”. E é assim que vamos nos moldando, que vamos nos construindo.

Então, quando desvendamos esta “matemática” da vida, as coisas se tornam mais claras, e geramos em nós mesmos um sentimento de aceitação.

Mas diante da Lembrança que falo mais acima, eu reflito por um momento e com a mão sobre o peito como a acariciar e confortar uma semente que ali estivesse, de minha boca pronuncio:

“Ao menos desejar eu posso.”