"Melina transformou seu sorriso em olhos fechados."

Melina era uma linda menina de pequenos-grandes olhos castanhos atentos a tudo o que se relacionava ao verbo viver. Melina era doce e encaracolada. E sempre se perdia nos grandes cachos de sua vida. Mas sempre se encontrava de volta. E sempre carregava um sorriso sincero no rosto. E outro no bolso, caso alguém precisasse. Sonhava a vida, e trazia para sua vida todas as cores dos seus sonhos. E sua vida estava completa. Nada lhe faltava. E lhe sobrava amor. Melina conhecia todos os verbos coloridos. Viver, amar, brincar, sorrir, cantar... Um dia, Melina conheceu o verbo perder. E o verbo sofrer. E conheceu o medo, a dor, a tristeza, a solidão, a incerteza. Incerteza do amanhã. Melina achava que tudo era eterno. E tudo em que acreditava perdeu o sentido naquele dia. Ela descobriu que era de verdade a saudade que os mais velhos tanto falavam. E descobriu que essa doença não afetava somente os mais velhos. E tudo isso fazia seu pequeno corpo doer e sangrar. Por dentro e por fora. E então todas as cores bonitas de seu arco-íris se reduziram a um pó cinza. Seus grades-pequenos olhos castanhos, tão vivos outrora, perderam a vontade de ver a vida que ainda existia, porque percebia que a vida que lhe mantinha o corpo vivo não existia mais. Melina perdeu a graça. Melina perdeu a doçura. Melina perdeu a vida. Melina transformou seu sorriso em olhos fechados. E anulou para sempre aquilo que chamam esperaça.