Sob um manto de quaresmeiras



 
Vi quando ele desceu a serra,  entrou na folia e viajou a noite inteira na fumaça da ilusão. Vi quando adormeceu durante o dia naquele canto sombrio para que a luz não lhe desvelasse o outro lado da face. Vi quando se foi o último som da batucada e deixou o silêncio na calçada. Vi quando se desnudou e lavou cada pecado na água salgada. Vi quando a onda o encobriu e a espuma se espargiu.  Vi a silhueta de sua alma lavada sob um manto de quaresmeiras. Vi a serra pintada de roxo, paramento de padre e quarenta dias de escuta da ‘Palavra’ envolvendo profunda reflexão.  Vi e senti sua dor enquanto rolava na ribanceira  forrada de quaresmeiras e pedia perdão. Rolava e pedia perdão. E não parava de rolar... Vi quando braços de ramos verdes acolheram com doçura seu corpo inanimado.  Vi como foi carregado e lavado  em límpidas águas vertentes.






 
 
 
heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 22/02/2012
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