Cotidiano

Acordo cedo, pego ônibus, tenho conversas vazias com cascas humanas.

Olho pela janela enquanto o ônibus se locomove, e vejo crianças pedindo esmolas, vejo motoqueiros caídos mortos, vejo amigos meu traficando e usando.

Penso que está próximo o final, mas o final ainda está tão longe, ainda faltam muitos parágrafos para que eu desça do ônibus.

Olho novamente e vejo mais crianças, vejo pessoas vivendo a margem da sociedade, e outras que nem sabe o que é sociedade, olho ao meu redor e sinto um vazio.

Alguém se levanta e eu me sento, penso em dormir, mas a bolsa de uma senhora não me permite, penso em me levantar e oferecer meu lugar, mas me contento em segurar sua bolsa pra poder descansar,

Vejo aquelas rugas e sinto culpa, mas sou vencido pelo cansaço.

Outra pessoa desce e ela se senta, pega a bolsa com um falso sorriso de agradecimento, e eu finjo que acredito que ela está mesmo grata.•.

Sinto um sono que me leva e me trás, olho para o relógio e notou que estou atrasado, ligo pro meu serviço e digo que o transito está parado.

Encosto a cabeça no vidro e vejo crianças em frente a bares, fumando, bebendo, fazendo sexo e penso que o mundo deve estar doente.

Olho meninas conhecidas que foram as mais belas hoje se prostituindo para manter o vicio vivo enquanto a alma espera pelo próprio velório.

Olho ao meu redor no ônibus e vejo pessoas que no passado eram importantes pra mim, olho pela janela e vejo um cachorro abandonado que cuida dos filhotes, e penso que no passado, antes da “evolução” das espécies ele era um caçador, e hoje depende de lixo para sobreviver.

Olho no ponto e vejo que ela sobe a mulher que me leva em delírios para cama...

Loira, no máximo 1,85cm, quadril largo, olhos claros, seios fartos, boca gulosa, tudo o que eu não devo desejar, naquele momento eu desejo, ela para e fica em pé ao meu lado, eu penso em puxar assunto...

Mas sou tímido demais para isso, quem sabe poderia lhe dizer versos e poesias dos passados, mas duvido que alguém que ande com um Blackberrry e escute barulho dizendo que é musica saiba o que é poesia, verso e trova.

Poderia oferecer meu lugar para ela sentar, mas duvido muito que isso seria motivo para conversarmos.

eu desisto sou vencido pelo cansaço, tudo o que eu quero é descer no próximo ponto e voltar para casa, mas não posso, tenho que me contentar em ser quem sou não posso querer mais do isso.

Minha deusa desce, e vejo aqueles belos quadris descendo com uma calcinha minúscula andando e noto que a deusa que eu tanto desejo, por outros também é cobiçada, e eu penso, que provavelmente eu nem a quero tanto assim.

Desisto dela, pego o meu celular e vejo que recebi uma mensagem, mas não quero responder quero apenas dormir e acordar no ponto final, mas eu não posso dormir, preciso ler este livro e me fazer de feliz, não posso dormir, preciso seguir toda a minha viagem enxergando.

Olho e vejo mais uma balada, passo em frente ao Obelisco, e imagino os homens antigos lutando e morrendo por liberdade, uma liberdade que agora é descrita em musicas de apologia ao crime, e a aliciação de menores para a pornografia, penso por um momento em Getúlio, e imagino o que teria levado o homem de poder ao “suicídio” com um tiro em seu peito, penso na educação e me vejo próximo de pessoas que nem mesmo sabem o que é democracia.

La se vai o ponto começo a ver o final me arrumo pra descer, mas me sento novamente, me lembrei que nesse ônibus chamado vida muitos parágrafos ainda tenho a escrever.

Dhymas DuGuetto
Enviado por Dhymas DuGuetto em 16/03/2012
Código do texto: T3557765
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