Vivemos a democracia do poder ecônomico



Vivemos a democracia do poder econômico, a burguesa democracia de um estado desigual, vivemos a igualdade desumana de uma democracia pouco social.
 
Nos escondemos por detrás de falsas oportunidades igualitárias, justificando o que temos por nossa meritocracia, quando na verdade nossas oportunidades foram, na quase absoluta maioria, vergonhosamente maiores que a da maioria miserável e excluída de nossa população.
 
Sim, eu trabalho sério, sempre dediquei minha vida a trabalhar, estudar e preparar meus filhos para este mundo, com educação, instrução e cultura, mas para isto tive no mínimo pais que também sempre valorizaram o trabalho, a educação e a instrução.
 
Filho de pais pobres, imigrantes, que vieram tentar a vida no Brasil fugindo da pobreza em Portugal, meus pais estavam longe da miséria social, valorizavam o conceito nuclear de família, e para seus filhos valorizavam sobremaneira a educação e a instrução.
 
Como meus pais, jamais abri mão de total responsabilidade sobre a educação integral de meus filhos. Dividi com as escolas, apenas a parte da instrução deles, mesmo assim jamais abri mão da obrigação e da incumbência de acompanhar de perto esta instrução verificando a eficácia do aprendizado e estando sempre pronto para tirar dúvidas e rever ou reforçar o aprendizado deles, mesmo que em vários momentos implicasse em eu ter que reestudar disciplinas para poder tirar as dúvidas.
 
Nós somente podemos dar o que de alguma forma tivermos, e de alguma forma tive de meus pais o que tentei dar para meus filhos em dedicação e responsabilidade no tocante a educa-los.
 
Quantos pais, por sequer conhecerem o significado do que seja dignidade social e humana e pelo quase absoluto abandono a que foram levados pela sociedade que cultivamos, não possuem meios nem capacidade para se doarem a seus filhos no compromisso de prepará-los para a vida.
 
Longe de ser contra a democracia, sou contra o domínio cego e inconsequente do poder econômico, que supera em muito qualquer estado de dignidade social e humana. Sou contra a situação onde o poder do capital direciona abertamente as políticas, subjugando o social e a legalidade, e falaciosamente brinca vendendo ideias de que as oportunidades são as mesmas para todos.
 
Em teoria as oportunidades se abrem para todos, mas na prática o alcance e o usufruto destas oportunidades não são nem de perto socialmente distribuídas. Como são injustas as “oportunidades iguais” abertas “igualmente” a ricos e miseráveis, aberta àqueles com uma educação obtida em escolas, cursos e universidades de nível internacional, com qualidades altíssimas e com custos elevadíssimos, em comparação com crianças que passam fome, vivem em lares com pouca qualidade de vida, localizada muitas vezes em áreas onde a criminalidade impera, onde o estado não chega, onde a falta de infraestrutura impera, sem boa alimentação, sem acesso a cultura, sem lazer, sem conhecer o mundo, sem segurança, algumas destas crianças sofrendo abandono ou maus tratos familiar, colocadas em escolas que a despeito da dedicação, competência e doação de seus profissionais, funcionam algumas vezes apenas como depósito para estas mesmas crianças, apenas para que seus pais, mão de obra barata, possam não faltar a seus trabalhos (quando os possuem).
 
Mas é claro que eu devo estar errado, a democracia do abusivo poder econômico deve ser justa, não corruptível e acima de tudo centrada em justiça social e honestidade humana, e assim oferece mesmas oportunidades a todos, ..., sim a todos os filhos deste mesmo capital especulativo que move, direciona e distorce o social e que corrompe a dignidade humana relegando uma parte da população a seres humanos de segunda classe, como excluídos sociais, que mesmo sendo irmãos em espécie, jamais serão irmãos em dignidade humana.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 01/05/2012
Código do texto: T3644600
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