O que é melhor, dar ou receber?



Entendo que somente possa dar aquilo que possua, o oposto me parece uma falácia física ou mesmo mental. Para possuir, ou eu construí sua existência, novamente física ou mental, ou eu recebi de outrem, mesmo que este outrem seja tão-somente a própria natureza. Caso tenha recebido de outro ser humano, este que me deu também ou teve que construí-lo ou recebeu de um terceiro, e este círculo se repetirá: sempre alguém que deu, ou recebeu de um outro, ou construiu  a existência do a ser doado. Acredito que isto seja o social em ação.
 
Desta forma entendo que dar é melhor do que receber, posto que estarei distribuindo e tornando acessível aos demais irmãos em espécie aquilo que já possuo, mesmo que não o tenha em excesso. Ter para doar, distribuir ou repartir implica que eu já tenha este algo a ser doado. Parto do princípio que a opção humana pela realização da distribuição do que possuo já foi confirmada em minha mente. Ter para dar, distribuir ou repartir implica na posse antecipada deste algo a ser doado.
 
Com a mesma humildade que devo repartir, devo também receber ou reunir. O social se realiza, entre outras formas, nesta contínua ciranda de repartir com os outros o que temos, não estou falando apenas de caridade, ela é importante enquanto necessária como solução emergencial para o estado de crise social a que permitimos nossa sociedade chegar, mas falo de um estado de espírito de repartir naturalmente o que temos com os outros, quem quer que eles sejam. Infelizmente nem tudo que possuímos nos é facultado distribuir, como exemplo, posso ter uma excelente saúde e por mais que eu deseje não a poderei repartir, nem mesmo com meus filhos, existem várias classes de objetos físicos ou mentais que não nos é possível repartir, mas aos demais, sempre nos é possível dividir.
 
O importante é que nem tudo é justo para ser dado. Preciso valorar humanamente e socialmente o objeto material ou mental de minha doação, e devo percebê-lo como positivo, como necessário a alguém, ou como capaz de ajudar ou de dignificar o social ou em última análise o humano, antes de sair distribuindo aos demais.
 
Não sou purista, mas tendo a ser pragmático quanto ao que seja justo, digno ou merecedor de ser dado. Não vale apenas uma análise simplista, do tipo daquela que tudo que me for valorado como positivo é alvo de atitude repartidora. Devo fazer uma análise crítica e racional, do ponto de vista da coletividade, da justiça social e do humano. Posso ser possuidor de algum desvio de personalidade, posso ser viciado, posso ser preconceituoso e acreditar que os meus valores são positivos, mas não pode ser somente por isto que eles sejam justos para a humanidade, para a natureza e para uma dignidade social.
 
Assim, ter e não distribuir é egoísmo e irresponsabilidade, estejamos falando de sentimentos, ou itens materiais. No caso dos itens materiais, a ignorância e a presunçosa vaidade de que somos merecedores de termos o muito, nos faz desumanos, cabe lembrar que todos os recursos materiais são finitos, e quem os acumula, implica diretamente na escassez destes mesmos recursos para outros, as vezes muitos outros.
 
Reforço minha posição de que entendo ser melhor dar do que receber. Sou consciente de que esta posição não reflete nenhuma verdade absoluta, mas tão somente minha leitura interpretativa de uma parcela da realidade, estando aberto a colocações que possam ser diferentes, mas somente aceitarei discuti-las se no final elas apontarem para uma dignidade humana e social.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 05/05/2012
Código do texto: T3651286
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.