O Primeiro Dia

Quantas e quantas vezes já ouvi alguém dizer que se deve viver como se fosse o último dia de sua vida? Quantas vezes se ouve falar por aí que ver todas as coisas como se fosse pela última vez faz com que você aproveite as coisas ao máximo?

Perdoem-me os que criaram essa teoria, e também os adeptos a ela.

Mas não posso fazer isso comigo.

Isso porque pensar que hoje é meu último dia me faz concluir que eu já vi e fiz tudo o que deveria ter visto e feito durante essa vida, sobrando espaço apenas para um e outro ajuste que eu estou empurrando há tempos com a barriga.

Prefiro ver a vida como se esse fosse meu primeiro dia aqui nesse mundo.

Experimente fazer isso. Sinta que é a primeira vez que vê as coisas. Olhe para as árvores, para as plantas, para os cachorros de rua, para o céu, para você mesmo no espelho, para o porteiro do seu prédio, para o cobrador do ônibus, para a sua família, para o seu quarto, para a sua namorada, para os seus amigos...

E você sentirá uma vontade tremenda de conhecer tudo.

Uma vontade de chegar até as árvores e lhe sentir a textura, coisa que certamente há muito tempo você não faz...

Uma vontade de falar com o porteiro, por quem você passa todos os dias e nem dá atenção, e perguntar como é a sua vida, se está com fome ou frio, falar sobre sua família, sentir vontade de conhecer seus filhos e sua mulher...

Vontade de escanear o céu e poder gravar na memória cada um dos traços e dos desenhos que as nuvens formam...

Vontade de falar com a pessoa que você ama e sentir todo esse amor como da primeira vez; e falar que a ama como falou da primeira vez; e a beijar como se fosse o primeiro beijo; e descobrir todo dia mais e mais as coisas que ela gosta e que a fazem feliz...

Vontade de olhar para todas as coisas e descobrir o quanto você deseja conhecê-las.

Fique feliz.

Esse é o primeiro dia.

De todos.