Caixa fechada

Mais uma vez tive a vida consumida pela existência, só estava parado há algum tempo e tudo chegava a mim, as árvores, o céu nublado, as flores, as pessoas, os cães de rua. Raramente alguém acenava com a cabeça com intenção de cumprimentar. Não existe simpatia. Estão, na maioria das vezes, fechados em sua fortaleza. Eu não podia evitar aquilo, estar vivo, por muito tempo não precisa viver, pode ser, estar. Se levar pela vida, pelos infortúnios, pelos devaneios, pela incoerência. Não sei nem porque vivo, talvez para ler, para crer, para sorrir, chorar, amar, cantar, sofrer, não crer, morrer, ou só porque querem isto. Disseram-me: “Viva. Isso basta”. Mas o que é viver, para que viver? Como assim viver? Eu preciso aprender a sambar, a tocar violão; preciso apreciar uma boa música, talvez ir ao cinema esta noite, isto é viver? Será que este é o padrão ou simplesmente posso inventar uma vida, um viver só para mim? Queria fugir a mim, desencontrar de todos, quando estou no submundo de meus livros eu não estou vivendo para ninguém, eu apenas vivo o que a estória me conta, prefiro fazer parte dela do que criar a minha, eu não posso errar.

Guilherme Cesar Meneguci
Enviado por Guilherme Cesar Meneguci em 03/06/2012
Reeditado em 03/06/2012
Código do texto: T3702806