UM POEMA TAMBÉM É...

Um poema é a fumaça fétida expelida pelas chaminés

É o lodo marrom dos canais imundos

É o esgoto que represa sob as palafitas

É o andrajo dos homens que perambulam pelas ruas

É a desventuras das mulheres que sequer conseguem amamentar

É a estatueta disforme feita pelo hippie

É a fome das crianças carentes

É o descaso das políticas habitacionais nas favelas

É a desnutrição dos adultos do sertão

É a estupidez do civilizado homem urbano

É a labareda incandescente que destrói o cerrado

É a motosserra zoadenta que devora a floresta

É a fuligem que entope o pulmão do sertanejo.

Um poema é o motorista irritado nas marginais do Tietê

É o condutor amedrontado na Linha Vermelha

É o cidadão que sobe o morro escondido da bala perdida

É o camelô que foge arrastando bugigangas

É o rapa que apreende mercadorias na calçada

É o policial sem colete que troca tiros com bandidos

É o bandido que massacra crianças indefesas.

É o deputado sentado na cadeira macia proclamando que a lamúria do povo é a maldição da sociedade.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 05/06/2012
Código do texto: T3706808
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