AGONISTA

O desejo de liberdade equivale a uma sentença de morte. A esperança é o fogo que alimenta o sofrimento humano. Porque tudo deve permanecer como está tal qual peças de museu e animais de zoológico. Assim é no mundo que vivemos. A liberdade genuína germina e prospera na coletividade e na libertação coletiva. Mas todo grupo também engessa e enquadra o indivíduo. E a mediocridade cobra pedágio da inteligência em favor da ignorância e do senso comum. Imaginativo, agonista e angustiado eu sigo pela liberação humana, individual e coletiva. A responsabilidade e a generosidade são os caminhos da liberdade. A liberdade é, para mim, uma necessidade vital. O progresso do intelecto é, para mim, uma obsessão, uma meta que persigo. E, no entanto, a audácia cobra o seu preço: o cansaço e o ceticismo se alternam constantemente com a energia e com a fé no curso da vida. E tanto mais intenso é quanto mais ambicioso é o objetivo. Me vejo sempre limitado. Para realizar a minha personalidade e o meu potencial tenho que me esforçar dez, cem vezes mais. A falta de tempo e a falta de meios me deixam em constante desvantagem, partindo sempre de níveis mais baixos e reduzindo minha capacidade. O desnível e o descompasso entre o conhecimento e a criatividade, entre a possibilidade e a vontade, entre as habilidades e a imaginação são fontes de permanente angústia. Além disso, todo o conhecimento do mundo não é o bastante para a mente mais faminta e mais viva. A erudição é uma ilusão de quem sabe pouco. A luta diária pela sobrevivência condiciona a totalidade da vida e restringe as possibilidades de satisfação das necessidades do espírito. A felicidade para alguns é divertimento. Para mim, é autorrealização. Quanto maior o preço de uma coisa, menos essa coisa vale. Quanto maior o preço de alguém, mais a pessoa deve ressarcir seu comprador pelo que não vale. A felicidade que tem preço só existe para os homens sem imaginação. A sabedoria é aquilo que encontramos, quando não estamos procurando. O sábio é uma antena que capta e transmite tudo que aprende pela experiência sem receitar certezas. O sábio é rico, porque não tem preço. Esse já foi o modelo de intelectual - sem papéis, sem títulos, sem honrarias e sem riquezas. As palavras sábias de um mendigo valem mais que todos os tomos de todas as obras dos letrados mais ilustres, se esses não forem autênticos. Por isso, eu prefiro a sabedoria e a inteligência dos loucos ao realismo das maiores autoridades. Talvez um dia eu seja livre e encontre a satisfação e a paz. Até lá, agonizo, luto!