Paixão de verdade.

Bebeu um vinho barato,

colocou os pés pra cima,

sentiu o cheiro da noite e tentou não pensar em nada, ao pensar apenas nele.

Como é ambígua a noite!

Estar com ele a noite toda era lindo e feliz, e essa felicidade só os apaixonados conheciam.

Esse encontro só acontecia, entretanto, em seus sonhos, e acordar ficava cada vez mais doloroso.

Sentia uma fúria de seu corpo por não realizar seu prazer acordada,

enquanto sua alma se deleitava a cada segundo que permanecia dormindo.

Sabia que era bobagem convidá-lo de verdade, pois aquele homem com quem se encontrava era apenas uma projeção do que ela gostaria que ele fosse.

No mundo real ele não teria tanta paciência com suas manias, tanta voluptuosidade embaixo dos lençóis ou um beijo tão audacioso. Teria?

A saber.

Colocava-se no lugar dele, como se estivesse ouvindo a declaração que ela tanto ensaiara. Denegria a si mesma, e respondia aos próprios questionamentos.

Diálogos se passavam em sua mente, e aos poucos, ia pegando no sono.

-Como você pode amar se nem me conhece de verdade? A última vez que nos vimos, foi há cinco anos e nossa relação foi estritamente profissional.

-Eu gosto das partes que eu conheço de você. Seu humor, seu carinho, sua capacidade profissional, seu companheirismo e até sua cara de cansado, quando ria das minhas bobeiras.

-Como você pode me amar se não sabe se eu te amo; como pode, se nunca teve nenhum sinal de que eu gosto de você?

-Você não percebeu, mas seu corpo me mandava sinais. Sempre sorria quando me olhava, e quase nunca suportava me encarar nos olhos por mais de um segundo. Já me chamou de 'meu nenê', de 'flor', de 'linda', e fazia brincadeiras com a maior intimidade do mundo. Já sabe quão ridícula eu já fui ao tentar chamar sua atenção, e o quanto isso nunca me importou, se eu conseguisse um sorriso seu.

Um dia, você se aproximou de mim, sem se importar com quem estivesse em volta, e seu rosto ficou a um palmo do meu. Segurou minha face com as duas mãos, me olhou nos olhos bem fundo e me disse qualquer coisa que eu não me lembro, pois seu hálito quente me embriagou, e me fez querer ficar ali pra sempre. Você quis dizer algo assim: você sabe que isso é muito perigoso, dona onça?

Naquele diz fui pra casa muito embaraçada, e ridiculamente feliz. Eu só queria te agarrar, encher de beijos, de amor, suor, e fazer com que cada segundo da minha existência fosse dedicado a te fazer feliz.

Muitos dias depois daquele, nos quase 3 anos que se passavam, tivemos momentos assim e ...

- Pode parar. Eu acho que tudo que eu fiz era pra ser uma brincadeira, e você alimentou como quis, imaginando esse sentimentos que nunca existiram.

- Você sabia que existia algo. Trocávamos emails com músicas de amor, e sempre que a conversa ficava séria, você me deixava falando sozinha! Tinha é medo de se envolver, e ainda tem!

- Eu acho melhor pararmos por aqui.

- Eu não disse! Você é covarde... e até isso eu amo em você. Eu sabia que era melhor continuar sonhando. Na realidade existe o NÃO.

Abraço e boa noite.