A canção dos miseráveis

O tédio martela a paciência e despeja na alma um desgosto pela vida.

E os miseráveis cantam uma cantiga triste e sem beleza musical.

Os miseráveis cantam a canção dos desesperados em uma vida

Lampejada de febres ocasionais no ambiente contaminado pela

Doença da humilhação e da insanidade congênita.

A fome de justiça é insaciável, o mel da liberdade convalescente

É inalcançável, o prazer e a dor são as únicas formas de provar

A fragilidade dos semideuses, e isso os tornam depressivos.

A solidão devasta fronteiras inteiras de desejos e o que resta

São apenas cinzas na alma deserta do ser humano. Os miseráveis

Cantam iludidos por uma promessa de bem aventurança mal digerida,

o conformismo barato corta as veias de compreensão

Do homem previsível e insano.

Os miseráveis cortando ruas, escuras ruas a procura de um

Super-herói que possa guardar suas lamentações, a procura

De uma liberdade divinizada e nada encontram, nada ofusca

Diante de tantos olhares ingênuos e perdidos, nada, pois além

das ruas o mundo é grande e destemido.

Os miseráveis cantam uma canção sem-fim, longínqua, monótona,

De poucas vozes, de muitas dores, de muitas idas e vindas,

de muitas lágrimas, de muita paciência e solidão. Os miseráveis

cantam uma canção de esperança, redenção e culpa

nas escuras ruas da vida.