O Segredo da Vida

Sinto-me presa, amordaçada, alheia.

Quero-me de novo livre, decidida, objetiva.

Nada me liberta dessa teia de rotinas.

Quero ser outra vez menina, não ter contas a pagar.

Poder optar sem ter de olhar para os lados, para trás.

A conta da luz, o recibo do gás, o telefone, alimentação,

O seguro do carro, os impostos municipais, diversão.

Meu lazer tem de se conter numa cota, alcançar uma meta,

Sem ultrapassar limites? E há limites para ser feliz?

Há cotas de alegria? Quem dera descobrir um dia.

Quem dera não precisar pensar, trabalhar, acordar de manhã.

Ter de comer, me vestir para sair, dirigir.

O mesmo percurso, o mesmo engarrafamento, a mesma hora.

O mesmo aborrecimento. Sim, aborreço-me com hora marcada.

Ir à luta, batalhar, tem um gosto de barata morta a dias e a pauladas.

Ver de novo aquela gente chata, limitada, gritando os mesmos gritos.

São clamores histéricos de gente irritada com sua acomodação.

Partem para a briga, discussão, querem vencer no grito sua aflição.

Querem dizer com isso que não é sua insatisfação consigo que os atormenta,

Mas a intolerância com o outro que os faz não progredir.

E assim mais um dia se passa, menos um dia nos falta

Para xingar e ser infeliz, ficar doente e culpar a gente

Do outro lado da rua, do bairro, do trabalho, da Lua.

Sem dinheiro e sem princípios, sem meios ou inícios,

Sigamos sem saber para onde queremos andar.

Chegar, chegaremos. Saberemos reconhecer o lugar?

Se não sabemos o que queremos, como saber parar?

Desembarcar no lugar certo exige mapa. E agora?

É chegada a hora de traçar caminhos, rotas.

Conseguiremos? Não sabemos de onde viemos.

Saberemos para onde vamos? Duvidamos.

Queremos muito o porto, o cais.

O balanço das águas mansas nos apraz,

Quando vigorosas nos assustam e aí pensamos no cais.

Todos querem ser navio, senhores do mar

O mar é o senhor bravio a nos intimidar.

Sejamos humildes, contetemo-nos em boar

Admirando o imenso azul do céu e do mar.

Fitando o amarelo da areia a nos esperar

Não ter metas, buscar vivenciar.

Contemplar! Esse é o segredo da vida.

Arsenia Rodrigues
Enviado por Arsenia Rodrigues em 17/02/2007
Reeditado em 26/06/2008
Código do texto: T384860
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