Manifesto por um Partido da Frente de Esquerda Revolucionária

Manifesto por um Partido da Frente de Esquerda Revolucionária

As organizações políticas existentes hoje no Brasil não tem capacidade suficiente de promover as mudanças sociais necessárias. O tipo de partido que reúne reformistas e revolucionários, que tem pelo menos uma origem radical, como PT e PSOL, não serve mais. Os reformistas de hoje nem se comparam ao reformismo de outrora e arrastam para a lama os militantes revolucionários e radicais sinceros. Não há disputa efetiva nessas organizações por uma política consequente para a conjuntura atual. A crise econômica e a ameaça fascista colocam em pauta a necessidade urgente de forjar um organismo político capaz de oferecer resistência aos ataques dos grandes capitalistas à classe trabalhadora.

A nossa esquerda revolucionária, que trava importantes combates, representada por partidos marxistas revolucionários como o PSTU, o PCB e o PCO, não é capaz de unificar o movimento de oposição de esquerda radical e de reunir todos os revolucionários para enfrentar o neofascismo e o aprofundamento do programa econômico neoliberal. A organização de tipo bolchevique, que historicamente se mostrou singular, pois nenhuma das organizações que a tiveram como modelo de fato reproduziram sua estrutura político-organizativa de maneira precisa (o Partido Bolchevique era, ao mesmo tempo, extremamente disciplinado e extremamente flexível; funcionava de acordo com o centralismo democrático e todos agiam "como um homem só", mas as divergências públicas no jornal do partido eram permitidas e as tendências internas podiam se conformar e se dissolver na medida em que a questão política fosse sanada, obedecendo antes a critérios políticos do que organizativos, não sendo um partido de tendências, mas não restringindo as tendências apenas ao período congressual e pré-congressual). Além disso, a organização partidária devia obedecer às necessidades da conjuntura política de cada país e do momento histórico. Assim recomendava Lênin. A atual dispersão da militância revolucionária e o revés sofrido pelos socialistas com a restauração do capitalismo nas antigas repúblicas socialistas impõem novas táticas e novas estratégias para esse momento.

A política de partidos anticapitalistas que unificam reformistas radicais e revolucionários só serve para amarrar a militância revolucionária num contexto em que, mais do que nunca, se faz necessária a independência política. A adesão a correntes burguesas de esquerda como o chavismo também é mais uma política desastrada fadada a levar o movimento socialista revolucionário à derrota.

Mas existe um tipo de partido inventado pelos trotskistas que pode corresponder às necessidades do atual momento histórico: a frente de organizações e tendências revolucionárias. Desde o POUM espanhol até a FER portuguesa, esse modelo de partido forjado pelo movimento trotskista pode ser capaz de alavancar não só a unidade da oposição de esquerda como a radicalização das lutas. Diante da fragmentação política e do enfraquecimento do projeto histórico socialista e de esquerda para propostas mais vagas de manifestação política como os partidos piratas e os partidos verdes, que agregam militantes de esquerda e de direita a depender do país e tem uma ênfase em questões mais específicas, somente uma proposta de unificação das correntes revolucionárias num mesmo partido com respeito à autonomia de cada organização e o direito de fração interna permanente e de fração pública pode garantir a sobrevivência da esquerda revolucionária enquanto alternativa política real para as massas. Hoje, o ANTARSYA é o melhor exemplo dessa forma organizativa. É uma frente composta por várias organizações revolucionárias gregas, muitas delas trotskistas, e que tem sido uma importante oposição extraparlamentar ao regime burguês daquele país. É de um partido desse tipo que precisamos no Brasil hoje. Temos uma vantagem enorme, pois temos partidos revolucionários de peso no movimento social e organizações revolucionárias com base política real. Podemos ainda buscar a reconciliação entre marxismo e anarquismo na luta, não ignorando as diferenças políticas estratégicas, mas lidando com elas, como se fazia na velha AIT - a I Internacional de Marx e de Bakunin. Organizar um partido que seja uma Frente da Esquerda Revolucionária pode ser um passo importante na virada histórica que se tornou possível a partir da crise. Abrir mão de aparatos e de posições ultrapassadas e sectárias é um gesto que se espera de quem busca a revolução. Feito isso, tudo é possível!

Quanto ao tema do centralismo ou do autonomismo, nem um nem outro são úteis nesse momento. O movimento precisa se reoxigenar, se renovar, e não poderá fazer isso se não for em liberdade. Mas a liberdade aqui não pode ser compreendida como a liberdade burguesa, liberal. As organizações dos trabalhadores não podem ser centradas nos indivíduos. A ação é sempre coletiva, somente o direito de crítica, de palavra é que deve ser irrestrito. Essa é única maneira de resistir ao assédio da repressão e garantir que as polêmicas se resolvam na dialética do debate interno e do debate no movimento e na própria ação prática, ao mesmo tempo. Historicamente, a forma organizativa básica e própria dos trabalhadores é a democracia direta. Da Atenas Clássica à República dos Sovietes, da Comuna de Paris de 1871 aos sindicatos de trabalhadores, a assembleia de base como centralizadora da ação é o pilar fundamental da organização da classe. O funcionamento através da Democracia Direta, com Assembleias de Militantes nos bairros, nas escolas, nas fábricas, nas universidades, nas regiões, nas cidades, é a única maneira de forjar a unidade de diferentes setores revolucionários e garantir a vontade soberana da maioria da militância partidária. Delegados para Encontros Estaduais ou Conferências e Congressos Nacionais devem votar de acordo com o que for decidido em assembleia, ou seja, devem ter mandatos imperativos. Essa é a única maneira de aprofundar a democracia partidária e fazer com que cada resolução reflita a dinâmica real da luta de classes. Um certo federalismo teria de ser tolerado para que houvesse o respeito às minorias (em especial às tendências, frações e organizações minoritárias), organizando-se uma direção nacional que fosse uma Coordenação Geral eleita de maneira proporcional e uma Executiva Nacional com representantes de cada grupo de forma igualitária. O combate às burocracias e à burocratização e o combate ao oportunismo, ao carreirismo e ao sectarismo devem se materializar na estrutura organizativa e na política para as massas.

O desafio de nossa geração é saber construir o novo e audaciosamente buscar o caminho para o futuro. A independência política, organizativa e financeira e o internacionalismo devem caminhar juntos, enquanto princípios, da estratégia de mobilização da classe trabalhadora e da juventude contra as medidas neoliberais do governo federal, das prefeituras e dos governos estaduais e contra a fascistização do Estado brasileiro manifesta na limpeza étnica e social promovida nas grandes cidades e nos assassinatos no campo, sendo o Estado ou promotor direto ou conivente e incentivador de particulares fascistas. A luta contra o Estado Policial e a Crise Capitalista devem ordenar todo o resto. A vitória só é possível para aqueles que sabem para onde vão. Conhecer o inimigo, a si mesmo e o campo de batalha são pré-requisitos para uma jornada de lutas bem-sucedida. Tudo que já cumpriu o seu papel deve perecer. As oportunidades históricas perdidas não voltam.

Rafael Rossi