O inexplicável sentimento amor

Quem dera eu poder falar do amor com a mais perfeita mestria, dizer o que ele é e todas as formas em que ele se encontra, mas isso não cabe a mim, somente um Deus pode ser dado tamanha dádiva. O que dizer desse sentimento que nos paralisa, nos faz tremer, suar, causa náuseas, estômago embrulhado, tonteira, falta de apetite, ficamos pensando na pessoa amada mil vezes por dia, enquanto o mundo inteiro está repleto de pessoas, mas apenas uma invade nossa mente, nosso corpo e nossa alma. Por que ela? Por que não outra? Como saber se isso é amor ou não é? Podemos dizer que é pela bondade em que somos tratados, pela cortesia, pelas boas ações, mas dizer isso seria falar do predicado antes de falar do sujeito. Para fazer alusão ao livro santo, posso dizer que o amor não vem e nem poderia vir somente de boas ações, mas de uma graça tamanha que invade nosso corpo e mente. O amor é um estado de espírito, uma graça maior que tudo, maior que tudo que merecemos. É algo injustificável, e não tem como o amor deixar de existir quando a graça invade nosso ser, podemos no máximo reprimi-la, como quem reprime a comida estando com fome.

Podem aparecer varias pessoas em que quiséssemos que fosse a pessoa amada, como se falássemos para nós mesmos: eu quero amar aquele fulano de tal que passa do outro lado da rua, ou então, quero amar fulano porque é bom comigo, me faz feliz, mas a verdade é que tais pessoas podem no máximo nos dar conforto, ou fazer com que criemos a ilusão de esquecer o verdadeiro amor, porém, o verdadeiro amor não é um querer, como que si pudéssemos dizer, eu quero amar fulano de tal. Não. O verdadeiro amor é um mistério, é um estado de graça consigo mesmo. É como o símbolo que nossa cultura escolheu e que poucos entendem o significado, pois a aliança é um circulo fechado, a qual não tem começo nem fim, e onde começou ninguém sabe, e onde se termina, talvez seja simples de responder, simplesmente porque não há fim. O amor verdadeiro não é um anel que se coloca no dedo, mas aquilo que nasceu e vive dentro da gente, é a forma imanente do outro conosco, e da gente consigo mesmo.

Eis o fato de porque a própria razão não pode atribuir significações, qualidades e adjetivos do porquê amar fulano ou beltrano, em dizer, por exemplo, que é porque fulano é bom, justo ou etc. Como se do contrário não fosse possível amar. Seria o mesmo que jogar uma moeda para cima e dizer que a razão poderia com certeza determinar se daria cara ou coroa, jogando o amor à sorte da razão, como se antes isso já não estivesse sido dado a você pela natureza que existe em seu espírito. Você não tem como saber se dará cara ou coroa. Tal forma bela e a mais nobre coisa do mundo, podemos apenas agradecer a dadiva em tê-la. De modo, que a razão apenas segue o que o espírito já concretizou de fato. Como disse brilhantemente o filósofo Michel de Montaigne, a explicação, ou melhor, o inexplicável seria em dizer: “porque era ele, porque era eu”. Digamos, porque aquelas duas almas se cruzaram no espaço e no tempo, e indecifravelmente somente elas e para elas aquele sentimento poderia ocorrer em tal ocasião, não poderia ser outra alma, nem outro tempo, nem outro espaço, de modo, que por ocasião o tempo e espaço se anularam formando um tempo infinito onde o amor habita.

Nem mesmo os textos sagrados como os escritos pelo apostolo Paulo de Tarso dizem com clareza o que é o amor para nós, mas antes deixa uma lacuna, pois depois de toda a explicação e exuberância de suas palavras sobre o que o amor é (ágape em grego e caritas em latim, por isso alguns traduzem como amor, outros por caridade, mas, lembremos que o novo testamento foi escrito em grego, só depois passado para o latim na versão da Vulgata Latina), no final do texto ele esclarece que o amor divino não é o mesmo que ele explanou em suas palavras, assim ele diz: “porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”. Claro que Paulo não seria tão tolo em dizer que o amor divino ele conheceria em sua propriedade. Pois, de modo empírico, na realidade, quem conhece alguém fora do próprio Cristo que conseguiu cumprir com total exuberância tudo o que seu texto descreveu? Ora, Cristo é uma das três pessoas da trindade, portanto Deus, logicamente Ele seria capaz de cumprir tal missão, a nós simples mortais apenas a indicação, a referência e o modo como de fato deveríamos e devemos nos aproximar desse amor.

TAS
Enviado por TAS em 01/09/2012
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