Devaneios

Sentia falta de profundidade. Nesse mundo onde as pessoas são superficiais, sentia necessidade de ver os outros em viagens internas.

Todos passam a vida viajando na superfície da existência. Veem, mas não enxergam. Olham para todos os lados, mas não prestam atenção em nada, como se fossem meros espectadores diante de uma tela que exibe suas próprias vidas. Mesmo tendo a opção de mudar de canal, fazem isso sem prestar atenção, sem escolher com jeito as cenas dos próximos capítulos ou o abrir e fechar de cortinas para próxima peça a ser apresentada.

Superficial também é o amor que vem na bagagem da solidão. Mulher que tem medo de ficar sozinha acaba amando com egoísmo e esse amor será o avesso da intensidade da alma e do coração.

Será como um fantoche, manipulado pelos dedos que não conseguem alcançar a essência do que habita no mais profundo de nosso ser.

E de repente ao escrever mais um pouco para e pensa, até que uma pergunta bizarra surge:

-Será que o amor é homem?

Sim, porque a palavra AMOR soa masculina e tem características de macho.

E dai se perde em devaneios, imaginando como será então o amor para os homens. Mal sabem eles que passam a vida amando outro homem. Como se fosse lobo em pele de cordeiro. O amor é um homem que se fantasia em faces de mulher para poder ser amado por outro ser da mesma espécie.

Fica tudo meio contraditório então, pois o amor sempre foi tido como o sentimento mais nobre já existente.

Mas como pode ser tão nobre assim um ser tão mentiroso?

Como pode ser sincero um homem que se veste de mulher para enganar outros homens?

Mas o que importa tudo isso se ele consegue apesar de tudo ter o dom de deixar uns rastros de felicidade por onde passa, seja em mulheres ou em homens.

O amor é um sentimento gay e isso o torna mais lindo ainda. A homossexualidade o torna mais gracioso, lhe dá gestos suaves, feições lúdicas e face delicada.

Por outro lado podemos então dizer que em matéria de amor a mulher é mais sortuda, pois ama um homem através de outro.

Que grande confusão!

Mas não deixa de ser normal, porque o amor de qualquer jeito sempre será uma confusão.

Deve ser por isso que ele é tão passional e intenso. Acho que todo homossexual é assim, dotado de coisas maiores do que qualquer outro ser comum. De sentimentos mais intensos, vivência mais plena. Expõe a alma ao mundo sem medo.

E pensando besteiras dali e daqui consegue encontrar um pouco de profundidade. Ao fazer uma comparação tão doida do amor, consegue viajar nas profundezas da sua loucura e deixar de lado essa superficial lucidez.

E assim acaba mais uma noite, sentada na cama feito uma louca, imaginando o amor vestido de plumas e paetês se apresentando em um cabaré qualquer da vida, arrancando os aplausos da plateia que passa o tempo sem encarar a nudez desse homem.

Sim, porque o amor passa a vida desnudo, para quem quiser ver. Mas poucos enxergam verdadeiramente seu corpo tão a mercê.

Através de uma nevoa de ilusões sentimentais cada um com seu olhar, veste o amor da forma que mais lhe for conveniente, o fazendo assumir várias faces, encenar diversos personagens no teatro de suas vidas, pois grande maioria tem receio de olhar com firmeza qualquer nudez que seja, principalmente a do amor. Assim o coitado às vezes vira palhaço em um circo qualquer da existência.

Bandido, marginal, fidalgo ou amigo, não importa qual seja o personagem, pois a verdadeira essência estará por baixo das vestes.

E deveríamos além de encarar com coragem a nudez, termos consciência que o papel interpretado pelo personagem é escolhido por nós mesmos, a história está ao alcance de nossas mãos. Então nos cabe a veracidade dela e não o plágio sentimental que nos torna a sombra do que um dia já foi de alguém, mas nunca será nosso quando for copiado.

Não ter medo da nudez é ter coragem para amar, pois tudo que é genuíno se desnuda.

Deby Lua
Enviado por Deby Lua em 03/09/2012
Código do texto: T3864203
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