Asilo
Tudo se resume em exilar-se. Voar por entre redemoinhos de areia e, depois de ter limpado a poeira dos óculos, procurar um destino que seja seguro. Aqui tudo parece o resto de um conto de fadas. Princesas destronadas, correndo e segurando vestidos luxuosos enquanto bruxas penduram maçãs suculentas em galhos de árvores. É tudo um fim de festa, tudo cheio de gente bêbada, sujeira no chão do banheiro e copos espalhados pelo jardim. A única solução é partir e sumir. Comprar passagem pra um lugar aonde haja sentido em acordar as seis da manhã pra regar plantinhas em vasos suspensos, ou dar comida pra passarinho. O único prazer em refugiar-se é saber que aonde estou sempre haverá muito de mim mesmo. Aqui sempre há livros, café fumegante e ar-condicionado. Não existe um mundo, uma realidade, um sentido... Existem infinitos únicos, estritamente particulares. Entre meias palavras e dois números inteiros sempre há um infinito possível, todo mundo sabe que eles existem, o problema é querer usufruir deles. É tão gostoso quando você olha pra longe e seus olhos desfocam, descansam a vista e você se sente bem, vivo. Essa é a essência de encontrar-se consigo mesmo. Desfocar do todo e descansar a vista. Olhar pros pensamentos e distinguir as cores, só isso. Nada mais importa...
A questão nunca foi isolamento. Tudo é um processo de exílio. Passa-se um tempo fora, quando as coisas estão tensas. Depois volta-se e tudo se renova. Realidade é uma questão de ponto de vista.