Devaneio sobre o insensível

Devaneio sobre o insensível

O ser insensível é estranho. Pensa que não sente, mas sente muito mais do que aquele sensível. Sente medo, sente pavor. A emoção mais poderosa – e, em minha opinião, a mais animalesca e, portanto, a mais humana – que a existência pode produzir. Aos que pensam que é o amor, respondo apenas que o amor produz mais vida, mas o medo conserva-as todas. Agora, voltando ao assunto: o insensível é aquele que mais sofre, mais sente, justamente por sentir o medo de sentir. O insensível sonha em ser uma rocha, o ser pétreo, impassível à chuva ou ao sol. Não se emociona ao ver tragédias na televisão, ou mesmo in loco, mas isso não passa de forma de justiça. Sim, justiça. Ele não sabe, mas além de sensível é também justo. Não sente por ninguém, e por isso mesmo, sente por todos, sem distinção! O ser insensível sente muito mais que os outros. Há também um terceiro sentimento, o qual ele vive intensamente (mas não sabe). É a tristeza. Vive na tristeza absoluta, por não saber que sente. Por fim, uma viva ao insensível, já que sem ele os seres sensíveis não seríamos tão felizes, pois sabemos que temos o dom único de saber que sentimos e somos invejados por isso! Nossos maiores dons: o de sentir, e o de saber que sentimos – este, acho que é mais gratificante que aquele. E acho que está na hora de acabar com este devaneio. Afinal, sentimento a gente sente, não estuda.