Mundo de morte

Multidões morrem pela morte do abandono social, da exclusão econômica, e da omissão humana. Eu vivo morrendo para a humanidade, sufocando minha própria humanidade, renegando meu altruísmo e destruindo meu ser, construindo uma cegueira que justifica meu existir, como se nada tivesse a haver com aquilo, como se a impotência por pura preguiça, por medo e por pavor de perder o que tenho fossem razões lógicas e factuais para me excluir das causas da miséria que assola populações inteiras.

O apocalipse nunca virá, pois o inferno é aqui mesmo, vivemos em um apocalipse eterno, praticamente desde que deixamos de ser nômades e nos fixamos como sociedades. A posse, a vaidade, o poder, e a petulância criaram ao longo do tempo justificativas, uma após outras, múltiplos deuses, deus único, homem deus, castas, reencarnações, evolução do mais forte, ditaduras, limpezas étnicas, monarquias e muitas outras, místicas ou seculares, para resguardar os poderosos e assim ficou muito mais fácil e justificável nos escondermos por traz da falaciosa salvação do amanhã, como se melhor hoje fosse para aqueles que sofrem, desde que não sejamos nós, Como vermes sociais nos agarramos na falsa esperança de que o melhor está guardado para aqueles que sofrem, como uma espécie de prêmio futuro para a graça do sofrimento atual.

Por detrás disto nos escondemos e justificamos nossa inação, nossa conivência com o atual estado de desumanidade, e finalmente com nossa irresponsável falta de revolta pelo que hoje é, pelo que já foi, e pelo que amanhã será, e principalmente pelo que hoje já esta a ser, e pela parte direta de culpa que temos, e hipocritamente ainda agradecemos pelos que sofrem, como se o sofrimento alheio dignificasse a vida. É claro que o que eu penso pelos outros penso diferente para mim e para os meus, pelos nossos imploramos, rogamos e suplicamos pela fartura, pela bem aventurança, e pelas vitórias e tudo pedimos para que nos afaste da morte, mesmo que hipocritamente justifiquemos a morte como um renascer para um mundo melhor.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 12/10/2012
Reeditado em 12/10/2012
Código do texto: T3928942
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