Não sou um relativista...

Não sou um relativista no sentido puro do termo filosófico, uma vez que não nego a diferença entre coisa e ideia, fato e ficção, verdade e desejo, realidade e interpretação sempre subjetiva desta realidade, evento e percepção sempre remota, atrasada e contaminada com preconceitos e teorias conscientes ou não.

Sou relativista não em relação a verdade, aos fatos ou a realidade em si, sou relativista quanto aos valores que individualmente percebemos ou atribuímos as coisas ou as ideias. Sou relativista se não somente quanto ao alcance destas mesmas coisas ou ideias, sou relativista também e principalmente pela interpretação e valoração a estas coisas e a estas mesmas ideias. Os “qualias” absolutos são verdades reais que entendo claramente existirem, mesmo que eu jamais tenha acesso direta e totalmente a eles pela fraqueza e falha de meus sensores biológicos, e pelas falhas, limitações e pela precariedade de meus circuitos neurais. As percepções e as interpretações, estas sim são para mim relativas.

Entendo que cada fato em si é despido de valores éticos, morais, sociais ou mesmo humanos. Os valores são atributos variáveis e decorrentes ou emergentes do relacionamento conosco, no íntimo de nosso processamento mental, e por fim decorre também do relacionamento social que defendemos, que aceitamos, que desejamos e no qual estamos integrado de alguma forma. Desta forma cada fato, evento ou mesmo ideia suscita um complexo processo mental e assim permite diferentes valorações, de pessoa para pessoa, e mesmo na mesma pessoa, de momentos diferentes para momentos diferentes, além é claro de cultura para cultura, de tempos para tempos e de lugar geográfico para diferentes lugares geográficos.

Sou enfim (ou tento ser, ou desejo ser, ou gostaria de ser...) um realista físico e materialista, limitado por meus processos subjetivos mentais e pelas limitações impostas por meus sensores biológicos, mas sou um relativista quanto ao grau de valores atribuídos por cada um e de forma coletiva pela sociedade para estas coisas, e para a interpretação destas mesmas coisas, decorrentes de nossa construção “bio-mental”.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 07/11/2012
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