poeta assumido.

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entre conversas e cervejas

disse-me um amigo, em tom sério

-poesia é coisa de veado ou vagabundo.

quando não os dois.

engoli a seco o deletério

sempre me senti estranho, pois

tomo mais uns goles, uns dois

e volto andando pra casa.

-pai, mãe, tenho algo a falar.

-finalmente, filho, vai casar?

-não, mãe. não posso. sou poeta.

meu pai, que sempre quis uma neta

pôs-se a chorar

minha mãe me olhou e sorriu.

-já sabia?

-te conheço desde pequeno

não haveria como de ti

saber menos

é a pessoa mais sensível que conheci

vá ser feliz, vá.

noutro dia, no trabalho

minha chefe ouviu de mim

-tenho algo a falar.

-pois bem, queria mesmo te dizer

serás promovido. parabéns.

-não posso. sou poeta.

-e a vergonha, não tens?

some daqui! já.

e sumi de lá.

sumi de lugares.

sumi de amores.

desejos fugazes.

tornaram-se dores.

cores esmaeceram-se

do preto e do branco

restou pó.

mas me assumi poeta.

poeta e só.

Vitório Vilas

Vitório Vilas
Enviado por Vitório Vilas em 01/03/2007
Código do texto: T398227