E o mundo não acabou

É incrível como a ingenuidade, a credulidade desassistida, a ignorância e a preguiça de raciocinar, estudar, criticar, racionalizar e aprender, faz com uma parcela enorme da população, que acaba acreditando em absurdos, confundindo ciência com pseudociência, em dogmas como leis, em mentiras como verdades, em crenças como conhecimento, em vontade como fato, em imaginação como realidade, em análise a posteriori com planos previamente estabelecidos, em impossibilidades lógicas ou físicas com possibilidades, em probabilidade como se milagre fosse, em aleatoriedade e complexidade como lei estabelecida, planejada ou em destino, no ideal como real, em desejos com verdades.

O fim do mundo é apenas mais uma destas crenças injustificadas, que revestida de falsa ciência, como outras tantas profecias, adivinhações ou apocalipses, encanta nossa mente cheia de bugs e despreparada para com ceticismo criticar de forma racional, buscando sim alguma verdade por detrás da neblina turva de falsos mistérios.

O fim do mundo não chegou, pelo menos para mim. Aqui continuo minha jornada, ou melhor, nossa jornada, pois sendo um animal social, minha jornada sempre será a jornada do coletivo, não só humano, mas de todas as espécies vivas. Infelizmente, ontem, 21 de dezembro de 2012 foi o fim do mundo para uma infinidade de irmãos que levados pela fatalidade inexorável da morte desapareceram deste mundo. Para eles o fim do mundo realmente chegou, como chega diariamente para uma imensa parte da população, como um evento natural que nos devolve ao nada eterno, após uma única chance para exercitar a esplendorosa realização, quase milagrosa, da vida e do viver. A morte encerra uma experimentação, trazendo a normalidade do nada que existia para cada um de nós antes de nossa passagem por aqui, eternizando assim este mesmo nada para cada um de nós.

A história verdadeira nos demonstra que toda espécie animal que passou por este nosso planetinha maravilhoso teve uma jornada limitada, e que após passar pelo apogeu de sua existência desapareceu. Isto é o fato, não a exceção, aliás a exceção é a minoria de espécies que ainda existem frente a quase infinita variedade de espécies que já tiveram passagem por estas bandas. Assim sendo, nossa raça, ”a toda poderosa raça humana” “criada e projetada a imagem e semelhança de algum ser supremo” também se encaminhará para o nada com o tempo, aliás é apenas uma questão de tempo, curto, médio ou longo, e nossa espécie será mais uma na história, como praticamente todas as outras. O dia virá em que os humanos, os homo sapiens não mais farão moradas nesta terra, e mais ainda virá o dia em que a própria terra não mais existirá, no mínimo com o fim do nosso sustentáculo gravitacional e energético, que é o nosso sol, nossa estrela que nos banha e irradia com energia.

Mas por enquanto o mundo não se foi. Nimbiru, planeta chupão ou qualquer outra profecia mais uma vez se esvaiu em mentira, superstição e medo infundado. O fim de nosso mundo está mais em nossas mãos do que na própria fatalidade e aleatoriedade da natureza. Somos perversos com nosso planeta, mas não deve ser de espantar uma vez que somos perversos até mesmo com nossos irmãos e conosco mesmo. Somos capazes de transvertidos em bons moços praticar atrocidades que me envergonham, e o que é pior, na certeza de que estamos fazendo o bem, pois fomos catequizados para crer que é ser bom destruir a liberdade dos outros apenas para provar e dar vitória as nossas crenças, aos nossos desejos, as nossas mentiras que como verdades absolutas e superiores as tratamos. Destruímos irmãos, guerreamos, e matamos apenas e tão somente porque eles são eles, e não comungam conosco com nossas crenças, nossa fé e nem com nossas ideologias, sejam estas seculares ou religiosas. Para piorar construímos preconceitos, crendices e superstições, que de estúpidas, segregam, destroem e aniquilam o que de humano poderia haver em nós.

O fim do mundo não chegou... AINDA... mas com nossa postura pedante, presunçosa, orgulhosa, soberba, arrogante, vaidosa, poderosa, preconceituosa, petulante, supersticiosa e convencida, acabaremos por destruir nossa espécie em tempo muito mais breve do que o tempo natural se incumbiria de faze-lo.

E o mundo não acabou... ainda....

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 23/12/2012
Reeditado em 23/12/2012
Código do texto: T4049423
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