Não sou

Não sou necessariamente o que pareço. Também não pareço exatamente o que sou, até mesmo porque sou muitos, sou complexo e sou uma metamorfose viva. Transformo-me de um em outro e deste em outro mais, que quando retorno a ser o que já fui, não sou mais aquele mesmo que já fui. Não, não necessariamente me “transformo”, apenas, temporariamente me subjugo a um dos muitos que realmente sou. A transformação é mascara do que sou? Sequer sei quem sou a cada instante, e quando creio ser, já não mais sou. Um camaleão, uma cobra, uma coleção de disfarces, um falso que se esconde por detrás de cada um dos que sou, como disfarce do que não desejo que ninguém saiba quem sou? Não, apenas sou muitos, sou tantos que para muitos sequer imagino que possa ser. Não sou falso, pois no fundo sou todos eles, mas sou falso, pois não sendo um só, sou uma falsidade ambulante como resolução da equação dos muitos que sou e dos muitos que querem ser eu ao mesmo tempo.

Não sou uma falácia plena, sou apenas e tão somente aquele que a cada momento pode ser um outro, mesmo sendo sempre apenas um para o mundo.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 27/12/2012
Reeditado em 27/12/2012
Código do texto: T4054844
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