Deixa Disso

Feche o olho. Tire as madeixas do rosto, jogue uma água fria. Deite descoberto deixe o vento arrepiar de leve a sua pele. Ore. Ore pelo que tem, teve e ainda terá. Saiba sorrir friamente para si próprio nas manhãs, aceite as marcas de expressão já tão desgastadas: acaricie-as. Sinta-as, dê-lhes nomes e espaço no seu dia. Aprecie a rouquidão, cante com ela, faça-a pior; ande descalço nos tacos soltos de sua sala pobre, vazia. Permita o dia passar sem palavras, sem berros e gemidos. Deixe-o fluir com o vendo que entra pelas persianas. Saia na chuva sozinho, deite no asfalto, deixe a água te sujar. Durma sem sonhar, só para repetir seu círculo de suspiros.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 20/01/2013
Reeditado em 25/07/2014
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