Para sempre eu fui ...

“Para sempre eu fui, para sempre eu sou, para sempre eu serei”. Gostaria que verdade fosse, mas não é. Minha existência é nada frente a quase eternidade do real existir.

“Para sempre eu fui”: mesmo limitando-me a existência do universo que conhecemos, este possui pelo menos mais de 13 bilhões de anos (o número 13 seguido de 9 zeros) 13.000.000.000 de anos. Sempre posso brincar com as palavras e dizer que a matéria vulgar de que sou feito existe em essência bruta durante todo este tempo. Elétrons, prótons, nêutrons, (Hadrons e leptons), quarks, gluons, mesons, bósons, fótons, partículas w, z e y e outras do zoológico particular de partículas elementares, talvez até do próprio gráviton, mas eu não sou somente a matéria que me compõe, sou a emergência da mente por um cérebro totalmente material, e esta mente existe somente desde que se iniciou a formação de meu cérebro, depois da fecundação e findará para sempre depois de minha morte.

“Para sempre eu sou”: talvez possa ser verdade se racionalizar que o momento presente seja eterno enquanto dure a minha realização e a minha experimentação deste momento presente. Mas mesmo assim é uma brincadeira séria, mas irreal, pois o meu presente é eterno, mas o presente continuará eterno, mesmo quando eu me for.

“Para sempre eu serei”: como comentado no primeiro item, sou exatamente o que meu cérebro é. É da emergente complexidade dele que a minha mente, e assim meus eus, surgem. Tenho prazo de validade, me irei tão logo a complexidade emergente de meu cérebro se finde com a morte, e a transformação biológica reaproveitar o material químico-orgânico de meu cérebro. Posso brincar que minhas obras, ou minha memória poderá existir para sempre, mentira, o tempo, longo ou curto, se responsabilizará por eliminar todo e qualquer vestígio do que fui e do meu existir. Nada existe que o tempo não destrua, até mesmo todo o universo está fadado a destruição natural ao longo do tempo cósmico necessário. Mesmo em tempo mais curto, a história mostra, que nenhuma espécie animal viveu para sempre, mesmo as mais bem ajustadas, como os dinossauros se foram. Alguns poderão retrucar que as bactérias foram as primeiras a existirem, e que por aqui ainda permanecem, cabe apenas lembrar que as bactérias não são do reino “animália”.

Já que não sou eterno, que consiga pelo menos encontrar minha humanidade no curto espaço de tempo de que disponho, e que no mínimo deixe boas lembranças para meus filhos quando me for.

Desafiando a razão de ser, sou rebelde, mas sou finito e tenho um pacto traçado com a morte desde a fecundação.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 20/01/2013
Reeditado em 20/01/2013
Código do texto: T4095783
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.