Menininha triste (ela sou eu?)
Era uma menina um tanto incomum.
Não procurava me parecer com as outras, procurava apenas parecer um ser humano, o que implica em complexidades e diferenças.
Por isso talvez eu não fosse tantas vezes correspondida pelos meninos que gostava. Pois ou era calada ou falava em demasia, mas não tinha o charme, as dengues das demais.
Não era uma menina meiguinha de caderno cheio de corações nem um mini-protótipo de mulher-fatal, a seduzir por diversão.
Por muitos momentos, preferia não ser notada a chamar atenção pela postura diferente. Sabia que não prestariam atenção em mim da maneira como eu era, mas sim como achavam que eu fosse, então, desistia e recolhia-me.
Recolhia-me como um patinho feio, com a mudez das mágoas trancadas.
Procurava então tentar desviar a raiva dos meus pensamentos, que sempre foram muitos.
Fazia planos para o dia em que visse a minha estrela brilhar, fazendo a minha existência significar um pouco mais para mim mesma, não importava se alguém estivesse vendo, o que importava era ser feliz, aceitar a vida.
Aceitar a vida. Às vezes, sinto-me qual filha ingrata, que acaba por desprezar a dádiva recebida.
Como se nunca fosse chegar o dia em que pudesse sentir-me plenamente viva, fazendo algo em que acreditasse, que pudesse fazer bem, e que de volta eu acreditasse mais ainda em mim.
Saber ser quem eu sou. É isso o que busco. Mas não deveria eu ser e pronto, para quê saber?
E no dia em que eu não mais for, o que vou fazer?
Hoje sou mulher.
Mulher que sabe que existe.
(Só não sabe se aceita ou não...)
Mulher com dedo em riste,
Que tenta apontar pro céu,
Pobre injusta e pecadora.
Que aponta pro próprio reflexo
No qual vê algo belo e não reconhece como seu.
Tem um homem em seu coração.
Um menino em seu colo.
Um ancião a sua espera.
É a pessoa triste mais feliz que já conheceu.
Será que o mundo poderá ser seu?
Será que o mundo tem algo de meu?
Se é que sei estar no mundo...