Para Thoreau
Caminhando, muito refleti.
De início, não queria ir sozinha. De início, resmungava a infelicidade de não ter em mãos um aparelhinho eletrônico sequer, que me propiciasse ouvir música enquanto andava.
Decidi ir apenas até o mercado. Mas, no meio do caminho, decidi andar um pouco mais. E mais um pouco. E, caminhando, pensei:
Na verdade, não importa tanto a direção na qual andamos. No meu caso, por exemplo, tanto faz seguir para leste ou oeste... Aqui, o oeste é tão populoso e desconfortável quanto o norte, o leste e o sul...
Mas, o que importa, afinal, é o oeste da mente! Caminhando, pode-se aprofundar no desconhecido de si mesmo.
E, afinal, quantos cãezinhos presos atrás de grades e portões, não gostariam de caminhar... Mesmo sozinhos, sem música? Mesmo nessas ruas sujas? Mesmo respirando esse ar poluído?...
E quantos cavalos, presos à carroças, não amariam poder simplesmente caminhar... Sem arrastar pesados fardos ou carregar folgados seres humanos?
Quando cheguei em casa, me vi renovada. Descobri mais uma parte de mim. Conheci outras tantas verdades. Caminhando.
Ele que tanta gente inspirou, me ensinou mais esta. Aprendendo a viver. Para não descobrir, na hora da minha morte, que jamais havia vivido.