Espanta-me


Não sou religioso, os poucos que já me leram sabem disto. Sem ser hipócrita sinto-me culpado por ser humano em um mudo em que a humanidade quase mais nada vale. Sem ser cínico, me espanta como podemos ler o mesmo livro da vida e dele tirarmos realidades tão diversas, tendo muitas vezes o mesmíssimo desejo de dignificar a humanidade que socialmente deveria ser amante da vida e do respeito ao humano e a natureza, mas alguns de nós se perdem na busca ou na espera de um amanhã, de um pós morte que me parece totalmente ilusório. Amo a vida, pela própria vida, amo a natureza pela própria natureza, amo o humano pela própria humanidade que deveria nos fazer mais sociais. Porque entendo ter uma única realização de meu viver, como entendo ser um ser transitório, fatal em toda sua essência do viver e do ser, como entendo que minha passagem é deveras breve, sem oportunidades para segunda época ou recuperação, como entendo que somos inteiramente imanentes e que a morte determina o fim total do que sou, e me devolve assim para o nada que era antes da fecundação, amo, valorizo, estimo e louvo a vida com todo meu empenho mental, e deste amor busco o respeito sincero e real não só a natureza, mas a todos os irmãos, compactuem eles ou não com minha forma de pensar e de ler a realidade deste mundo.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 10/06/2013
Reeditado em 10/06/2013
Código do texto: T4333639
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