Busca da felicidade



Perguntaram-me se eu era feliz por ser ateu. ???!!!?? Na hora fiquei meio que paralisado, não porque não tinha resposta, porem pela tentativa de não ser grosseiro e acabar melindrando ou mesmo ofendendo o questionador. Acabei devolvendo em forma de pergunta: Por que eu deveria ser feliz, ou mais feliz, por ser ateu?
Ser ateu é uma decisão, não é uma filosofia de vida. Ser ateu apenas me define como não aceitando o teísmo, a existência de um deus abraâmico, que intercede, que tudo criou por escolha deliberada, que escreveu o roteiro das vidas de cada um, e que deve ser onipresente, onipotente e onisciente. No meu caso específico, não creio também no deísmo, no panteísmo e muito menos no politeísmo. Ser ateu não me faz melhor e nem pior do que ninguém, como já comentei o ateísmo não é uma filosofia de vida e nem foi o ateísmo que me levou a nenhuma filosofia em especial, foi exatamente o contrário, o estudo, a leitura do livro da vida e da realidade que me levou ao materialismo, ao humanismo secular, ao naturalismo, a paixão pela física, pela matemática, pela evolução e pela neurociência. A busca pela verdade me levou a algum ceticismo, o que me obriga a buscar com mais profundidade. Foi o materialismo que me fez sair do armário e expor minha não crença em nenhum deus, ou melhor, em nenhum transcendentalismo. Creio na matéria, na energia e tudo que delas derivem ou que possam ser a elas reduzidas ou transformadas, direta ou indiretamente. Amo a humanidade como um ser animal. Amo os animais como variação em espécie do que a minha espécie se tornou. Amo a natureza, amo a ciência e a matemática.
 
Não, não sou feliz por ser ateu, ou não sou mais feliz por ser ateu, como não poderia ser, e como não posso ser feliz pelo que sou. A felicidade absoluta é impossível. A felicidade absoluta e constante somente podem ser alcançada pelos alienados, os loucos ou os doentes mentais. Não posso ser feliz de toda a minha existência enquanto seres humanos sofrerem, enquanto crianças são perdidas para a miséria e o abandono social, enquanto possa ter amigos padecendo de dores, doenças e sofrimentos, enquanto vejo a natureza sendo degradada por irmãos em espécie. Não creio na existência de sábios, mas se algum existe e diz que é feliz em toda a sua absoluta realização da felicidade plena, eu somente posso dizer que ou ele é mentiroso, ou louco ou um alienado.
 
Busco a felicidade, é claro. Todos devem faze-lo, mais do que isto, todos tem a obrigação de procurar a felicidade, mas apenas alcançaremos retalhos desta felicidade, apenas nos será possível reduzir o sofrimento, minimizar seu impacto e maximizar os momentos de alguma alegria e felicidade. E o ateísmo não interfere nisto. Somente encontro alguma felicidade no relacionamento entre eu e a natureza, entre eu e o conhecimento, entre eu e os irmãos em espécie, assim somente as obras, o que faço ou a percepção de felicidades momentâneas nos irmãos me ajuda a polvilhar a minha vida com alguma felicidade também.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 16/06/2013
Código do texto: T4343631
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.